Título: Onda conservadora volta aos EUA
Autor: Brooks, David
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/01/2010, Internacional, p. A13

Céticos, americanos rejeitam ideias da elite educada e apontam uma nova mudança política no país

Os EUA abrem esta década de ânimo azedo. Primeiro, os americanos estão ansiosos com relação ao futuro - 61% da população acredita que o país está em declínio, segundo a mais recente pesquisa NBC News/Wall Street Journal. Somente 27% dos americanos dizem que a geração de seus filhos ficará em melhor condição que a sua.

Além disso, os americanos perderam a fé em suas instituições. Durante os grandes momentos da reforma social, ao menos 60% dos americanos achavam que o governo fazia a coisa certa na maioria das vezes. Agora, somente um quatro da população tem essa confiança.

O EUA estão divididos com relação ao presidente Barack Obama. Os governos estaduais caíram em desgraça e a confiança no Congresso está significativamente baixa. Como observou Frank Newport, do instituto Gallup, em seu resumo de fim de ano, "os americanos confiam menos do que nunca em seus representantes eleitos".

Um terceiro fator é a queda do apoio popular ao atual governo. Em quase todas as esferas da opinião pública, os americanos estão se afastando do governo e não se aproximando dele. Os institutos Ipsos e McClatchy vêm perguntando a eleitores qual partido pode fazer o melhor trabalho para lidar com um leque de 13 questões diferentes. Durante o primeiro ano da presidência de Obama, os republicanos ganharam terreno nas 13.

O público não está somente mudando da esquerda para a direita. Cada simples ideia associada à classe educada se tornou mais impopular do que no ano passado. A classe educada acredita em aquecimento global, de modo que o ceticismo público sobre aquecimento global está em alta. A classe educada apoia o direito ao aborto, enquanto a opinião pública está ficando contra. A classe educada apoia o controle de armas, mas a oposição ao controle de armas está crescendo.

A história se repete em assuntos externos. A classe educada é internacionalista, por isso o sentimento isolacionista está agora em seu auge, segundo uma pesquisa do Pew Research Center. A classe educada acredita em ação multilateral, com isso o número de americanos que acredita que devemos "seguir nosso próprio caminho" cresceu fortemente.

Um ano atrás, os seguidores de Obama eram os passionais. Agora, as brigadas do "Tea Party" são as mais empolgadas. O nome do grupo é uma referência aos protestos de colonos ingleses que, em 1773, jogaram no mar as cargas de chá que pertenciam à Companhia Britânica das Índias Ocidentais, em protesto contra o governo colonial, um episódio importante no que viria a ser a Guerra da Independência dos EUA.

Este movimento, o Tea Party, é hoje uma grande e rebelde confederação de americanos que são definidos por aquilo que são contra. Eles são contra o poder concentrado da classe educada. Eles acreditam que governo grande, empresa grande, mídia grande e profissionais ricos estão se mancomunando para formar uma oligarquia em interesse próprio - com governo inchado, déficits insustentáveis, impostos altos e regulação intrusiva.

O Tea Party é particularmente famoso por sua franja exuberante. No entanto, ele é agora mais popular do que qualquer um dos grandes partidos. Segundo a sondagem da NBC News/Wall Street Journal, 41% dos americanos têm um visão positiva do movimento. Somente 35% dos entrevistados têm uma visão positiva dos democratas e 28% têm uma visão positiva dos republicanos.

O instituto Rasmussen perguntou a eleitores independentes quem eles apoiariam em uma eleição. O Tea Party venceu com 33%. Os democratas vieram em segundo com 25%, seguidos pelos republicanos, com 12%.

Ao longo deste ano, o Tea Party provavelmente sofrerá transformações. Neste momento, ele é um movimento amador com uma liderança medíocre. No entanto, vários políticos brilhantes e refinados, como Marco Rubio, da Flórida, e Gary Johnson, do Novo México, estão competindo extraoficialmente pela liderança do grupo. Se conseguirem, o movimento superará seus princípios toscos e poderá se tornar uma importante força na política americana.

Além disso, o Tea Party tem paixão. Pensem nas décadas recentes da história americana. A maneira como os hippies definiram os anos 60. As feministas nos anos 70. Os conservadores-cristãos nos 80. A história dos EUA é movida por outsiders apaixonados que forçam sua entrada no centro da vida do país.

No curto prazo, a tendência estabelecida pelo Tea Party dominará o Partido Republicano. Não subestimem os reservatórios profundos da insatisfação pública. Se houver uma recessão dentro da recessão, o país poderá pedir uma mudança total, criando um vácuo que o movimento Tea Party pode preencher.