Título: Para Obama, segurança fracassou de forma potencialmente desastrosa
Autor: Chacra, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/01/2010, Internacional, p. A10

Presidente americano diz que inteligência tinha informações no caso de nigeriano, mas não soube ligar os pontos

O presidente dos EUA, Barack Obama, afirmou ontem que seu governo possuía informações suficientes para impedir o fracassado atentado contra um avião que aterrissava em Detroit no dia do Natal. Segundo Obama, os serviços de segurança e inteligência não conseguiram conectar os pontos que levariam à prevenção da ação.

"Este não foi um fracasso para coletar informações de inteligência, mas um fracasso para conectar e entender os dados que já possuíamos", disse Obama após se reunir com seu gabinete de segurança nacional. "Não tolerarei isso", afirmou, prometendo reformas e acrescentando que os EUA precisam fazer um trabalho melhor. "Todos os membros de meu governo entendem que precisamos fazer isso rapidamente."

Na ação, o nigeriano Umar Farouk Abdulmutallab tentou detonar um explosivo em pó escondido em sua cueca pouco antes de o avião pousar em Detroit, mas acabou não conseguindo e foi dominado por outros passageiros. Se ele tivesse sido bem sucedido, a explosão causaria um buraco na fuselagem e a queda do avião que levava cerca de 300 pessoas a bordo. Ele havia embarcado em Lagos, na Nigéria, e feito uma conexão em Amsterdã, antes de viajar aos EUA.

Segundo Obama, o sistema de segurança "fracassou de uma maneira potencialmente desastrosa". O presidente disse que membros do serviço de inteligência americano tinham informações de que Abdulmutallab viajara para o Iêmen, onde a Al-Qaeda na Península Arábica tornou-se um dos braços mais poderosos da rede terrorista de Osama bin Laden. Um de seus líderes recentemente ameaçara os EUA com ataques. Um clérigo americano no Iêmen também influenciara o atirador da base militar de Fort Hood, no Texas. "O governo dos EUA tinha informações suficientes para impedir o atentado, mas os nossos serviços de inteligência fracassaram ao não conseguir conectar os pontos com informações sobre o nigeriano", disse o presidente.

Comentaristas americanos observavam ontem nas principais redes de TV o tom duro do discurso do presidente, irritado com as falhas da inteligência. A principal discussão é sobre como o nigeriano conseguiu embarcar se seu nome integrava uma lista de suspeitos de terrorismo.

Depois do episódio, uma série de medidas de segurança foram adotadas. Além disso, passageiros nativos ou que tenham visitado uma lista de 14 países onde há suspeitas de atividades de organizações terroristas serão obrigados a passar por uma revista completa. O Brasil não está incluído. O governo cubano protestou ontem por ter sido incluído na lista dos países que representam risco.

GUANTÁNAMO

Obama também disse ontem que ainda está comprometido em fechar a prisão de Guantánamo, apesar dos imprevistos. Os EUA anunciaram ontem que as transferências de prisioneiros de Guantánamo para o Iêmen estão suspensas. Há cerca de 90 iemenitas detidos na base americana em Cuba e pelo menos metade deles deveria retornar para o Iêmen.