Título: Suicida de base afegã era agente triplo
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Fonte: O Estado de São Paulo, 06/01/2010, Internacional, p. A11

Humam al-Balawi, que matou 7 funcionários da CIA, trabalhava para americanos, jordanianos e para a Al-Qaeda

Nyt, Afp e Reuters Tamanho do texto? A A A A WASHINGTON

O autor do atentado suicida que causou a morte de sete funcionários da CIA e um membro da inteligência jordaniana, em 30 de dezembro, no Afeganistão, era um agente triplo. O médico jordaniano Humam Khalil Abu Mulal al-Balawi havia sido recrutado pelo serviço de inteligência da Jordânia, mas também trabalhava para a CIA e para a rede terrorista Al-Qaeda.

A informação foi divulgada na noite de segunda-feira à noite pelo canal de TV NBC News e pelo jornal The New York Times, que citaram fontes dos serviços de inteligência de países ocidentais.

Al-Balawi, de 36 anos, chegou a ser preso pela polícia jordaniana, que o teria convencido a mudar de lado. A agência de espionagem da Jordânia, que há anos trabalha extraoficialmente em conjunto com a CIA, apresentou-o aos americanos, que deram o sinal verde para que ele fosse enviado ao Afeganistão com a missão de se encontrar com o número 2 da Al-Qaeda, o egípcio Ayman al-Zawahiri.

INFILTRADO

Al-Balawi teria se infiltrado na Al-Qaeda, fingindo ser um militante jihadista. Segundo os americanos, ele chegou a passar "importantes informações de inteligência", o que lhe teria garantido a confiança da CIA. Por isso, ele não teria sido revistado antes entrar na base de Chapman, na Província de Khost, no sudeste do Afeganistão.

De acordo com testemunhas, assim que Al-Balawi chegou à base, um funcionário da CIA chegou a afirmar: "Ele é nosso homem, não é necessário revistá-lo."

Até então, não se sabia como um homem-bomba havia conseguido passar pelo forte esquema de segurança da base. Na ocasião, pouco após o ataque, o Taleban afirmou que Al-Balawi era um simpatizante do grupo e integrante do Exército afegão, o que explicaria o fato de ele ter entrado no local com explosivos.

A morte de sete agentes em um único ataque foi uma das piores baixas da história da CIA. De acordo com a NBC News, o contato de Al-Balawi no Afeganistão foi o oitavo morto no atentado, um jordaniano identificado como Ali bin Zeid, oficial dos serviços de inteligência da Jordânia.

Al-Balawi teria ligado para Zeid, poucos dias antes do atentado, para dizer que deveria se encontrar com a equipe da CIA na base de Chapman, porque tinha "informações urgentes" sobre Zawahiri.

JORDÂNIA

O governo jordaniano negou categoricamente que Al-Balawi e seu serviço secreto estivessem envolvidos no ataque à base. "Não há nenhuma prova", afirmou o ministro jordaniano da Informação, Nabil Sharif. "A Jordânia não está cooperando com a CIA no Afeganistão."

No entanto, parentes de Zeid, que era primo distante do rei jordaniano, Abdullah, afirmaram que ele estava em missão no Afeganistão havia 20 dias.

"A Jordânia se sente incomodada com o fato de sua cooperação com a CIA ter sido revelada dessa maneira, o que deve irritar a população local, que é antiamericana", disse um diplomata ocidental, sob condição de anonimato.