Título: BC teme aceleração da inflação global
Autor: Landim, Raquel
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/01/2010, Economia, p. B1

Relatório revela preocupação com fim do processo de redução dos índices

O Banco Central (BC) está preocupado com o que acontecerá com a inflação mundial, que teve forte queda por causa da crise financeira no último ano e meio. Para a autoridade monetária brasileira, o processo de redução nos índices de preços parece estar acabando e a possibilidade de uma aceleração inflacionária no futuro está cada vez maior, influenciada pela grande oferta de dinheiro circulando no mundo e pela alta do preço das commodities.

"A evolução recente dos preços e as perspectivas de manutenção do processo de recuperação gradual da atividade econômica mundial sugerem a proximidade do efetivo esgotamento do período de redução nas taxas de inflação", disse o BC no último Relatório de Inflação, divulgado em dezembro. "O novo cenário poderá se configurar em novo período de aceleração dos preços, impulsionado, mesmo em ambiente de ociosidade dos fatores de produção, pelos efeitos defasados da liquidez ofertada pelos bancos centrais ao longo dos últimos trimestres e pelas pressões de preços associadas às cotações das commodities", completou o BC.

Na avaliação da autoridade monetária, a inflação mundial caiu sobretudo por causa do recuo das cotações internacionais das commodities e dos preços de energia. Esse movimento ocorreu em consequência da drástica redução na demanda mundial na fase aguda da crise internacional, iniciada em setembro de 2008. Antes desse período, o custo das matérias-primas e da energia vinha subindo impulsionado pela demanda que estava em alta, especialmente nos países emergentes, como a China.

O BC ressaltou que no Brasil houve menos volatilidade nos preços. Na avaliação da autoridade monetária, isso ocorreu por causa da relação inversa entre commodities e taxa de câmbio e também pela rigidez inflacionária do País, determinada pelos preços de serviços e pelos preços administrados. Assim, quando o câmbio se desvalorizou no Brasil ? o que poderia elevar a inflação ?, o movimento foi acompanhado de uma queda brusca nas commodities. E, mesmo com uma tendência de desaceleração dos preços industriais, a inflação brasileira recuou menos do que em outros países por causa da indexação, que afeta preços de serviços e contratos de tarifas públicas.

Com a trajetória, ainda que lenta, de recuperação da economia mundial, o BC teme que os preços subam em reação à excessiva oferta de dinheiro, fruto das políticas de juros baixos principalmente no mundo desenvolvido. Esse dinheiro certamente vai buscar formas de se multiplicar e, com isso, pode, por exemplo, acelerar o já em curso processo de alta das commodities, que reflete a retomada da economia mundial e o ritmo já forte de países emergentes como China e Brasil.

Esse quadro reforça o discurso de cautela do BC, que já prepara o terreno para uma subida dos juros básicos em algum momento neste ano. Outro aspecto nessa direção é a preocupação com o ritmo de ocupação da capacidade instalada na indústria. No Relatório de Inflação, o BC faz ainda uma simulação para concluir que, mantido o ritmo trimestral de expansão do uso da capacidade instalada em novembro, o indicador estaria em maio muito próximo (apenas 0,2 ponto abaixo) do recorde de junho de 2008.