Título: Bancos antecipam as previsões de alta da taxa Selic para abril
Autor: Landim, Raquel
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/01/2010, Economia, p. B1

Aquecimento da economia leva grande parte das instituições e consultorias financeiras a rever projeções

O aquecimento da economia brasileira levou instituições financeiras e consultorias a antecipar as projeções para o início do ciclo de alta da taxa básica de juros (Selic) em 2010. Antes, grande parte do mercado apostava que o aperto monetário começaria no segundo semestre. Hoje, a maioria dos analistas vê elevação da Selic a partir de abril - há até quem preveja um juro mais alto já em março.

O Relatório de Inflação, divulgado pelo Banco Central (BC) no dia 22 de dezembro, foi o fator mais recente a contribuir para a tendência. O BC deixou os especialistas preocupados com o ritmo do consumo e da utilização da capacidade instalada da indústria. "O BC usou muitos advérbios fortes no texto. Até aquele momento, o mercado praticamente descartava uma subida em março", comentou um analista. A Selic está hoje em 8,75% ao ano, menor nível da história do País.

Em setembro de 2009, o boletim Focus, síntese de um levantamento sistemático feito pelo BC com o mercado, apontava que a alta do juro básico só começaria em outubro, com 0,25 ponto porcentual. Nos últimos três meses, os analistas adiantaram o início do aperto. Em outubro de 2009, projetavam alta de juros em junho de 2010. No fim de dezembro, as estimativas apontavam aumento de 0,50 ponto porcentual em abril.

"O último Relatório de Inflação colocou o gato em cima do telhado", disse o diretor de Pesquisas Econômicas do Bradesco, Octavio de Barros. Ele prevê que o BC começará a elevar os juros em abril e a Selic atingirá 11,75% no fim de 2010. "Quanto mais cedo começar, mais chance de ter um aperto monetário menor", completou.

Barros ressaltou que o consumo das famílias e os gastos do governo vão crescer muito e o déficit externo previsto (resultado principalmente do aumento de importações) não será suficiente para conter a pressão inflacionária. As previsões do Bradesco para o investimento apontam alta de 20% em 2010, o que incrementaria a capacidade da indústria. "Só que, no curto prazo, investimento é demanda."

INFLAÇÃO

A principal dúvida que persiste é o comportamento dos índices de inflação, que vieram mais fracos que a expectativa - o que poderia permitir ao BC esperar mais alguns meses antes de subir a Selic. O Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M), da Fundação Getúlio Vargas, fechou o ano com queda de 1,72%. O mercado esperava deflação de 1,4%.

O economista-chefe do Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn, acredita que o ciclo total de elevação da Selic alcançará 2,75 pontos porcentuais - ou seja, a taxa encerraria 2010 em 11,50%. A primeira alta, nas contas dele, ocorrerá em março e as outras em abril, junho e julho. A estimativa foi feita em novembro.

O economista-chefe do JP Morgan, Fábio Akira, é outro que vê um aperto monetário já a partir de março. Ele enumera uma série de razões: o nível de utilização da capacidade da indústria está acima da média em alguns setores, o crescimento da demanda é robusto, os juros estão baixos e a política fiscal foi relaxada. "Entramos em 2010 crescendo forte. Algo vai ter de ser reduzido e não há sinais de um ajuste fiscal."

Para o estrategista-chefe do West LB, Roberto Padovani, o último Relatório de Inflação dá recados ao mercado, ao apontar para a ociosidade dos fatores "remanescentes" da economia e sinalizar que o governo está preocupado com a capacidade da indústria. "Se o BC já está temeroso, aumenta a probabilidade de que os juros subam mais cedo", disse.

O ex-diretor do BC e economista-chefe do Banco Santander, Alexandre Schwartsman, diz que o BC foi mais duro no Relatório de Inflação do que havia sido na ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). "O BC indicou, com suas projeções para inflação, que provavelmente o limite para elevar o juro é o meio deste ano". Schwartsman prevê a primeira alta da Selic em julho. Para o fim de 2010, sua expectativa é de uma taxa em 10,75% ao ano.

NÚMEROS

11,75 % é a previsão do Bradesco para a taxa de juro no fim de 2010

10 % é a previsão do Bradesco para o crescimento dos gastos do governo e do consumo das famílias neste ano

20 % é a previsão para a alta dos investimentos em 2010