Título: Etanol já perde da gasolina em 20 Estados
Autor: Rehder, Marcelo
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/01/2010, Economia, p. B6

Apenas em sete Estados abastecer com álcool ainda é mais vantajoso

Com a escalada dos preços do etanol nas bombas de combustível nos últimos meses, já é mais vantajoso abastecer o carro flex com gasolina em 20 Estados brasileiros, incluindo o Distrito Federal. Apenas em sete Estados vale a pena usar o etanol: São Paulo, Bahia, Goiás, Mato Grosso, Paraná, Pernambuco e Tocantins.

Segundo especialistas, rodar com etanol deixa de ser vantajoso quando o preço do litro do combustível exceder 70% o da gasolina. Pesquisa divulgada ontem pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) mostra que, entre os dias 27 de dezembro e 2 de janeiro, a relação entre o preço médio do etanol e o da gasolina superava os 70% em 20 unidades da Federação.

O número dobrou desde o fim de outubro, quando o etanol não era competitivo com a gasolina em dez Estados. De acordo com a ANP, o valor mais alto cobrado do consumidor é de R$ 2,158 o litro, na média dos preços de 26 postos pesquisados em Roraima. O valor corresponde a 80% do preço médio do litro da gasolina, de R$ 2,695.

Na maioria dos Estados onde ainda é mais vantajoso abastecer o carro com etanol, o preço está perto do limite. Em São Paulo, maior produtor de álcool do País, e também o maior centro consumidor, os postos cobram em média R$ 1,670 por litro do etanol e R$ 2,432 pela gasolina, uma relação de 76,8%.

"Em São Paulo, nos postos que trabalham com produto honesto hoje não é mais interessante para o cliente abastecer com álcool o carro flex", diz o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Estado de São Paulo (Sincopetro), José Alberto Paiva Gouveia.

Segundo ele, o consumidor ainda encontra álcool barato no mercado porque "há postos desonestos". "Mas é aquele álcool que o cara usa comprando sem pagar imposto, misturando mais água do que deve, entre outras maracutaias."

Para Gouveia, a alternativa mais viável para conter a alta dos preços seria o consumidor exercer seu direito de deixar de usar o produto. "Se cai o consumo, o preço também cai."

QUANDO É MAIS VANTAJOSO

Para fazer a escolha mais econômica, a conta é simples: basta multiplicar o preço da gasolina por 0,7. Se o resultado for menor do que o valor do litro do álcool, sai mais barato abastecer com gasolina.

No mercado, a principal explicação para a disparada dos preços seria o aumento da produção de açúcar para exportação, em detrimento do álcool. Desde julho, os preços subiram cerca de 30%.

A quebra da safra na Índia, segundo maior produtor mundial, desencadeou uma disparada dos preços no mercado internacional, incentivando produtores brasileiros a ampliar a produção de açúcar. "Contribuiu, mas não foi o principal", diz o representante da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Única) em Ribeirão Preto (SP), Sérgio Prado. Para ele, a alta foi puxada pelo aumento do consumo. Além disso, as usinas deixaram de produzir 1,8 bilhão de litros, equivalente a mais de um mês de consumo nacional (1,4 bilhão de litros) por causa de problemas na colheita relativos ao excesso de chuvas.