Título: A linguagem particular de Aécio
Autor: Duailibi, Julia
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/12/2009, Nacional, p. A4

Versado na novilíngua da política mineira, o governador Aécio Neves - parafraseando o termo orwelliano duplipensar - dupliagiu: daqui para diante protagonizará o papel, aparentemente contraditório, de postulante à Vice-Presidência, à Presidência e ao Senado. Para Aécio, e seu vocabulário peculiar, estar longe pode significar estar no centro, derrota pode ser sua única chance de vitória.

Na tradução livre que a cúpula do PSDB fez do gesto, a saída de cena de Aécio é tão somente a senha para seu ingresso mais adiante no palco como vice-presidente na chapa puro-sangue tucana encabeçada pelo governador José Serra. Para Aécio, é questão de sobrevivência.

No quadro de decomposição ética dos partidos, a simples adesão de siglas a um candidato não adiciona necessariamente octanagem à candidatura; pode, antes, "batizar" a mistura, prejudicando a trajetória até outubro de 2010.

De tal modo, o valor eleitoral da equação PSDB ao quadrado seria, assim, maior do que a soma PT + PMDB + toda aquela constelação de pequenos partidos que orbitam em torno de Lula, das estatais e dos cargos comissionados, para citar apenas benesses acima da superfície.

A chapa única tucana é um risco para a oposição, no caso de um naufrágio da candidatura Serra. Mas para Aécio será sempre uma oportunidade. O governador tem em Minas seu espaço vital. Ali precisa fazer o sucessor, personificado pelo vice-governador Antônio Anastasia. Se Minas cair nas mãos do PMDB ou PT, mesmo transformado em vice a partir de 2011, Aécio será um político menor. Embalado por uma campanha nacional, ajudará mais a Anastasia do que como senador.

Aécio, ao que parece, atreve-se a ser vice, atreve-se até mesmo a ser companheiro de Serra numa hoje improvável derrota para Dilma, mas não se atreve a deixar a ribalta da grande política para de lá comandar a sucessão em Minas.