Título: Spread de privado bate o de público
Autor: Nakagawa, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/12/2009, Economia, p. B8
Mas por 7 anos, até 2008, estatais tinham taxa superior
Por sete anos seguidos, bancos públicos praticaram spreads bancários maiores que os privados. Inédito, o dado foi revelado ontem por pesquisa do Banco Central que mostra que apenas em 2008, ano em que o governo agiu fortemente para que as instituições estatais diminuíssem os juros, a situação se inverteu e os privados passaram a cobrar margem maior. O maior custo administrativo e a inadimplência explicam o histórico de spreads elevados dos públicos.
O levantamento mostra que instituições como o Banco do Brasil e a Caixa praticaram spreads maiores que os concorrentes entre 2001 e 2007. A diferença já chegou a quase 20%: em 2005, a margem nos empréstimos de instituições públicas era de 41,5 pontos porcentuais e os concorrentes cobravam 34,9 pontos.
"O alto custo administrativo e a inadimplência média maior explica esse spread maior nos bancos estatais. Mesmo que a margem de lucro dessas instituições seja menor que a dos concorrentes, o spread foi maior por tanto tempo porque o banco era mais caro para operar", diz o analista da Austin Rating, Luis Miguel Santacreu.
Segundo o estudo do BC, mais de 45% do spread dos públicos é composta por custo administrativo (15,1%) e inadimplência (40,7%). Nos privados, a participação somada desses dois fatores é quase dez pontos porcentuais menor, com fatia de 9,7% para custos administrativos e 29,1% para inadimplência.
Foi esse quadro que deflagrou a forte pressão do Palácio do Planalto para que os bancos públicos liderassem o aumento do crédito e redução dos spreads em meio à crise financeira agravada em setembro de 2008. A ação, que continuou em 2009 e teve seu ápice com a troca da presidência do BB, surtiu resultado: o spread dos estatais no ano passado ficou em 37 pontos, abaixo dos 40,9 pontos praticados pelos privados. Além disso, bancos como o BB e Caixa ganharam força com aquisições e mercado pela forte oferta de empréstimos no último ano.