Título: Barbosa cita vice como receptor direto de propina
Autor: Rangel, Rodrigo
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/12/2009, Nacional, p. A4

Ex-secretário diz que entregou pessoalmente a Paulo Octávio pouco mais de R$ 200 mil

Em um dos novos depoimentos prestados ao Ministério Público no início do mês, aos quais o Estado teve acesso, o ex-secretário de Relações Institucionais do governo do Distrito Federal Durval Barbosa pela primeira vez incluiu o vice-governador Paulo Octávio (DEM) como receptor direto de propina dentro do governo José Roberto Arruda. Antes, apenas Marcelo Carvalho, que comanda as empresas de Paulo Octávio em Brasília, aparecia envolvido no esquema.

Delator do esquema, Barbosa assinou16 termos de declaração entre 2 e 10 de dezembro, depois da Operação Caixa de Pandora, desencadeada pela Polícia Federal no dia 27 de novembro.

Barbosa disse que entregou pessoalmente ao vice-governador um valor pouco superior a R$ 200 mil num encontro em uma suíte do Hotel Kubitschek Plaza, de propriedade de Paulo Octávio. A entrega do dinheiro teria ocorrido há cerca de um ano e meio, segundo o relato. A propina, diz o ex-secretário, é oriunda de dois contratos de informática com a empresária Cristina Boner, dona da TBA, holding de Brasília que representa a americana Microsoft.

Em vídeo que consta do inquérito, Cristina trata com Barbosa de um contrato a ser firmado com o governo do DF. Já nos minutos finais da conversa, o ex-secretário sentencia: "Vou fazer uma emergencial com você por cinco meses, mais a licença." No inquérito, há documentos indicando que R$ 50 mil pagos pela empresária a Barbosa foram repassados a Arruda "para pagamento de despesas pessoais".

ORGANOGRAMA

O esquema do "mensalão do DEM" obedecia a um organograma de recolhimento e distribuição da propina em Brasília. Os executores de cada tarefa foram nominados por Barbosa nos novos depoimentos. Entre os personagens desse time estão Domingos Lamoglia e Fábio Simão, citados na perícia da PF.

Segundo ele, Fábio Simão, ex-chefe de gabinete de Arruda, era o responsável por arrecadar a propina das empresas contratadas para as áreas de esporte, educação e turismo. Os recursos desviados dos contratos de obras ficavam, de acordo com Barbosa, sob a tutela do então secretário da área, Márcio Machado, e de José Eustáquio, os mesmos responsáveis por gerenciar o caixa da campanha de Arruda em 2006.

Na área de publicidade, a tarefa de cobrar propina, segundo os depoimentos, cabia a Weligton Moraes, secretário de Comunicação de Arruda. Os distribuidores, diz Barbosa, eram Domingos Lamoglia, ex-chefe de gabinete de Arruda na Câmara e hoje conselheiro do Tribunal de Contas do DF, e José Geraldo Maciel, que ocupava a chefia da Casa Civil do governo. Durval voltou a confessar que arrecadava a propina na área de informática e citou outros três personagens que também teriam participado do esquema: Omézio Pontes, ex-assessor de imprensa de Arruda, e os empresários Renato Malcotti e Paulo Roxo.