Título: Funai amplia o esquema de proteção a índios isolados
Autor: Arruda. Roldão
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/12/2009, Nacional, p. A8

Serão reforçadas 6 frentes de defesa e criadas outras 5 até o fim de 2010

A Fundação Nacional do Índio (Funai) decidiu fortalecer as seis frentes de proteção dos povos indígenas isolados e criar outras cinco até o final de 2010. As mudanças são atribuídas sobretudo à pressão das frentes econômicas que estão aumentando na Amazônia Legal.

"Por toda parte estão surgindo novos e fortes empreendimentos, ligados ao manejo sustentável de madeira, pavimentação de estradas, projetos de mineração, construção de hidrelétricas", explica o coordenador da área de índios isoladas da Funai, Elias dos Santos Bigio. "Foi diante desse contexto que se decidiu intensificar a proteção aos índios."

Os índios classificados como isolados são os que ainda vivem sem contato com a civilização dos homens brancos. Não se sabe ao certo quantos grupos existem no Brasil. Segundo levantamentos da Funai, devem passar de 60 - quase todos na região.

De acordo com estimativas da organização não-governamental Survival International, o território brasileiro é o que abriga o maior número isolados no mundo. Ainda segundo a Survival, que atua há quase quatro décadas na defesa de grupos indígenas, o número de isolados no mundo gira em torno de 100. Parte deles está concentrada em Papua Nova Guiné, país formado por um conjunto de ilhas, na Oceania. A maioria fica na Amazônia.

Recentemente, a Survival lançou um relatório observando que o esforço mundial para reduzir emissões de gás carbônico - e o aquecimento do planeta - poderá afetar drasticamente a vida dos isolados. De acordo com o texto do relatório, a busca de fontes de energia limpa, com as hidrelétricas, assim como a expansão do plantio de cana, para a produção de álcool, e a exploração sustentável das florestas, tende a avançar sobre áreas ainda não exploradas economicamente - e nas quais vivem os isolados.

O relatório termina com a observação de que os povos que não têm nada a ver com o aquecimento global e preservam as florestas são os que podem pagar mais caro pelo esforço para freá-lo. Uma das novas frentes a serem instaladas pela Funai ficará em Rondônia, na região do Rio Madeira, onde estão sendo construídas as hidrelétricas de Jirau e Santo Antonio. "Os empreendimentos não atingem as terras indígenas, mas devem atrair muitas pessoas para a região", diz Bigio.

Rondônia preocupa pela pavimentação da estrada que ligará a capital do Estado, Porto Velho, a Manaus, no Amazonas. No Pará deverá ser criada uma frente na região da BR-161. O Estado acompanha a expedição, que durará dois meses.