Título: Mais que decepção
Autor: Ming, Celso
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/12/2009, Economia, p. B2

Não basta lamentar o fracasso da conferência sobre o controle das emissões de gás carbônico (CO2) que terminou anteontem em Copenhague, Dinamarca. É preciso ir mais fundo nas razões do que aconteceu - ou do que deixou de acontecer.

Os senhores do mundo - e estavam lá nada menos que 193 chefes de Estado - não estão convencidos de que o problema é grave e que precisa de resposta imediata. E, pior do que isso, não se sentem com mandato para virar o jogo.

A reversão do processo de aquecimento exige muito, muito dinheiro. A proposta de US$ 100 bilhões apresentada pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, foi uma insignificância diante das necessidades apontadas pelos especialistas. A reivindicação de forte aumento das alocações de recursos chegou em hora ruim, em que praticamente todos os países ricos estão afundados em enormes e quase irreversíveis rombos orçamentários.

O baixíssimo resultado da Conferência em relação à mobilização feita para ela mostra que estamos longe da solução. Os problemas ambientais precisam piorar muito para que as autoridades do mundo comecem a se comprometer com a execução de programas consistentes de recuperação.

A geografia política do mundo sofre de enormes limitações existenciais. O Planeta virou uma só aldeia. Não estamos mais nos tempos em que cada povo vivia numa ilha e cuidava dos seus hospitais. As principais mazelas que atingem o ser humano são globais e, no entanto, as instituições das quais se esperam soluções eficazes e políticas públicas também globais não conseguem ultrapassar o âmbito puramente paroquial em que atuam.

O mais poderoso entre os líderes do mundo continua pensando pequeno sobre questões ambientais. As bagagens com que o presidente Barack Obama desembarcou em Copenhague não continham as aspirações da humanidade. Continham apenas os pleitos dos lobistas americanos.

E dá para ir mais longe. Obama não se sentiu autorizado nem pelo Congresso dos Estados Unidos nem por seus eleitores a avançar para além dos limites da proposta miúda por ele apresentada.

A mesma desproporção vem sendo observada em outros campos. Quando da eclosão da gripe suína, que ignorou fronteiras nacionais e exigiu rápida resposta nos quatro cantos da Terra, as autoridades sanitárias não conseguiram articular nenhuma política pública partilhada. Na prática, atuaram isoladas umas das outras.

Uma das causas desta crise financeira, aparentemente ainda não superada, é a de que os bancos operam globalmente enquanto as instituições encarregadas de sua supervisão não conseguem ultrapassar a jurisdição de sua comarca.

O mesmo acanhamento político se verifica no comércio mundial. Há oito anos, os países-membros da Organização Mundial do Comércio tentam concluir a Rodada Doha, mas estão a anos-luz do objetivo porque continuam amarrados a interesses puramente locais.

Enfim, as instituições que organizam o jogo político mundial não conseguem acompanhar as exigências do nosso tempo.