Título: Exportador ainda está cauteloso para investir
Autor: Landim, Raquel
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/12/2009, Economia, p. B3

Fabricantes aguardam recuperação consistente da economia mundial

Os setores exportadores estão mais cautelosos para desengavetar projetos que as empresas focadas no mercado interno. Fabricantes de aço e de papel e celulose aguardam uma recuperação mais significativa da economia mundial. Antes da crise, esses segmentos lideravam os rankings de perspectivas de investimentos.

Segundo o vice-presidente executivo do Instituto Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes, a capacidade de produção brasileira de aço deve atingir 43,5 milhões de toneladas em 2010, mais que o dobro dos 22,6 milhões de toneladas da demanda interna. Mesmo os megaeventos, como Olimpíada e Copa do Mundo, e os projetos da Petrobrás não serão suficientes para reverter o quadro. Pelas contas do setor, esses projetos vão demandar 8 milhões de toneladas de aço até 2016, o que significa 1,2 milhão de toneladas por ano.

"A grande preocupação hoje é a exportação", disse Lopes. Ele afirmou que as vendas externas chegam a representar 30% a 40% da produção - porcentuais que dificilmente serão redirecionados para o mercado interno no curto prazo.

Cálculos internacionais apontam um excedente de produção mundial de aço de 600 milhões de toneladas. Por causa disso, as siderúrgicas brasileiras estão preocupadas com o recrudescimento do protecionismo no mundo pós-crise e pedem uma atuação mais incisiva do governo. "Precisamos de uma diplomacia ativa, para evitar novas barreiras", disse Lopes.

O governo federal pressiona a mineradora Vale para investir em siderurgia. Conforme o Instituto Aço Brasil, as usinas já existentes têm planos de ampliar a produção em 7 milhões de toneladas até 2014, o que pode significar US$ 8,4 bilhões em investimentos. "Mas o início dos projetos depende da recuperação do mercado internacional e da redução da capacidade ociosa no mundo", disse Lopes.

No setor de papel e celulose, as empresas planejam retomar os projetos engavetados na crise, mas ainda não se comprometeram com prazos. A International Paper avalia um projeto de fábrica em Três Lagoas (MG), que só deve ser confirmado em 2010. A Klabin também pretende construir uma fábrica de celulose, para fornecer matéria-prima para suas fábricas de papel, "nos próximos anos".

Conforme uma nota enviada pela Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa), "as empresas estão revendo planejamentos e estratégias". A entidade informa que "o mercado mundial começa a dar sinais de recuperação, mas caberá a cada empresa decidir o melhor momento para retomar os investimentos".

A produção brasileira de papel e celulose atingiu 12,2 milhões de toneladas de janeiro a novembro, alta de 6,2%. Em volume, as vendas domésticas cresceram 17,7% e as exportações, 15,4%. O problema é que os preços ainda não se recuperaram e a receita obtida na exportação caiu 18,1%.

Os fabricantes de celulares ainda não planejam aumento de capacidade de produção por causa das barreiras colocadas por seus principais clientes no mercado internacional, Argentina, Venezuela e Equador. As exportações representam 30% da produção brasileira.

"Não faz sentido pensar em aumento de capacidade. Ainda estamos trabalhando com capacidade ociosa", disse o presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Humberto Barbato. Ele afirmou que a expectativa dos fabricantes de celulares em 2010 é retomar o nível de produção de 2008. Segmentos focados no mercado interno, como informática e material elétrico, tiveram melhor desempenho. O setor elétrico e eletrônico prevê investimentos de R$ 5,3 bilhões em 2010, acima dos R$ 3,8 bilhões deste ano.