Título: Dois institutos, dois cenários para Dilma
Autor: Amorim, Silvia
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/12/2009, Nacional, p. A9

A diferença entre os resultados das duas pesquisas de intenção de voto divulgadas em dezembro está fora da margem de erro para os porcentuais alcançados por Dilma Rousseff e Aécio Neves. A candidata do PT está cinco pontos abaixo e o governador de Minas Gerais, nove pontos acima no Vox Populi em comparação ao Datafolha. Há duas explicações possíveis, afora o erro puro e simples de um dos institutos: data e metodologia distintas.

O Vox Populi, contratado pela revista IstoÉ, ouviu 2 mil eleitores pelo telefone entre 11 e 14 de dezembro. O Datafolha fez entrevistas pessoalmente e teve uma amostra maior, 11.429 entrevistas, mas isso porque o instituto aumentou-a em 10 Estados para pesquisar também a intenção de voto para governador nesses locais. Na prática, as amostras nacionais se equivalem, o que fica evidenciado pela mesma margem de erro divulgada: 2 pontos porcentuais no caso do Datafolha, e 2,2 pontos para o Vox Populi. As principais diferenças foram o período de pesquisa e o método de captação.

O Datafolha foi a campo mais tarde, e isso pode ter influenciado o resultado, por dois motivos: houve mais tempo para que os eventuais efeitos boca-a-boca da propaganda do PT no rádio e na TV, quando o partido lançou extra-oficialmente a candidatura presidencial de Dilma, alavancassem a intenção de voto na ministra. Do mesmo modo, a pesquisa teve tempo de captar o impacto da desistência anunciada por Aécio de disputar a Presidência. O governador fez o anúncio na quinta-feira, e as entrevistas da pesquisa Datafolha só terminaram na sexta.

Pesquisas feitas por telefone, no Brasil, geralmente têm dificuldade para captar a opinião dos eleitores das classes D e E, que não têm acesso a telefone fixo, apenas, e quando muito, a celular. Como não há lista telefônica de telefones móveis, é difícil organizar pesquisas ligando para esse tipo de aparelho, salvo em painéis fixos de acompanhamento de uma mesma amostra de eleitores.

O diretor do Vox Populi, Marcos Coimbra, diz que seu instituto comparou resultados de pesquisas pessoais e telefônicas, e que os resultados foram semelhantes o suficiente para trocar a pesquisa de campo pela telefonia. Datafolha e Ibope não fazem pesquisa que pretenda espelhar o total do eleitorado brasileiro pelo telefone.

Diferenças metodológicas à parte, resta a pergunta: Dilma apresenta algum sinal de crescimento, como sugere o Datafolha? O instituto não divulgou quadros evolutivos, pois não havia pesquisado cenários idênticos em agosto, data do levantamento anterior. Mesmo assim, nunca antes na corrida presidencial Dilma havia alcançado, em nenhum cenário ou instituto, os 31% que obteve em uma das hipóteses testadas (disputa contra Aécio e Marina Silva, sem Ciro Gomes). Seus 26% contra José Serra (40%) também são inéditos no histórico do Datafolha.

Some-se o fato de que Dilma tem maior potencial de crescimento entre os mais pobres, justamente aqueles eleitores que não têm telefone fixo em casa, e a dúvida aumenta. Segundo o Datafolha, a ministra ainda tem menos da metade da intenção de voto dos eleitores que declaram preferência pelo PT (entre 44% e 48% nas disputas contra Serra), o que é mais um sinal de potencial de crescimento. Ao mesmo tempo, a candidatura do líder absoluto, José Serra (PSDB), está oscilando há meses entre 35% e 40%.

A resposta à pergunta sobre o crescimento de Dilma só virá na próxima rodada de pesquisas, quando mais pontos na curva poderão confirmar ou não a evolução da candidatura governista. Mas há um ponto em comum entre as pesquisas Datafolha e Vox Populi: a provável polarização entre Dilma e Serra, com Marina e Ciro atuando como coadjuvantes cujo papel é evitar a definição da eleição ainda no 1º turno.

* É jornalista especializado em reportagens com uso de estatísticas e coordenador da Abraji