Título: Obama comemora vitória no Senado
Autor: Chacra, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/12/2009, Internacional, p. A16
Polêmico projeto de lei de reforma da Saúde avança no Congresso
O Senado dos EUA aprovou um projeto de lei para reformar o sistema de saúde americano no início da madrugada de ontem, em uma votação classificada como uma "tremenda vitória" pelo presidente Barack Obama. A Câmara dos Deputados já havia passado uma proposta, que inclui pontos diferentes da que foi votada pelos senadores. As duas casas do Congresso americano ainda terão de chegar a um acordo sobre qual será o texto da lei antes de votá-lo (leia quadro).
A aprovação, por 60 a votos a 40, é considerada a principal vitória doméstica para Obama em seu primeiro ano de mandato. Desde que tomou posse, ele deixou claro que a reforma da saúde era uma de suas prioridades, ainda que a lei fique aquém do que ele esperava. Bill Clinton, ao levar adiante um projeto similar, fracassou em 1993. Agora, os senadores terão de passar pelo procedimento de quatro votações até a última simbólica na véspera de Natal.
"Eu quero deixar claro que, para estes que criticam esta lei como um aumento nos gastos do governo, o plano prevê uma redução de nosso déficit em US$ 132 bilhões nos primeiros dez anos e mais de US$ 1 trilhão na década seguinte", disse Obama, ao comentar a aprovação. Republicanos discordam e afirmam que a conta pode ficar ainda mais negativa com o plano.
Na votação de ontem, nenhum senador do Partido Republicano apoiou o projeto de reforma. Os 58 senadores democratas mais dois independentes votaram a favor. Caso obtivesse um voto a menos, o governo sairia derrotado. Para conseguir este número descrito como mágico nos meios políticos americanos, a Casa Branca teve de negociar individualmente com uma série de senadores e aceitar compromissos, como a eliminação de os americanos poderem optar por um seguro de saúde público que competiria contra os privados.
A ausência de uma opção pública deve gerar um embate entre senadores e deputados democratas. A líder do partido na Câmara, Nancy Pelosi, já deixou claro que votará contra um projeto que não inclua um seguro de saúde estatal. Também há divergências referentes à cobertura de abortos pelo sistema de saúde. Para os democratas mais à esquerda do partido, Obama cedeu demasiadamente para moderados e conservadores, em detrimento da base que o elegeu.
Caso haja acordo para aprovar uma lei similar na Câmara e no Senado, cerca de 30 milhões de americanos atualmente sem seguro terão acesso a atendimento médico- elevando a cobertura para 94% dos americanos de até 65 anos. Ao mesmo tempo, para bancar o novo sistema, cidadãos que recebem mais de US$ 200 mil ou casais que recebam juntos US$ 250 mil pagarão mais impostos.
Celebrando a vitória, o senador democrata Christopher Dodd afirmou que "o seguro saúde deve ser um direito, não um privilégio. Na votação de ontem, um dos homenageados foi o senador Ted Kennedy, que morreu neste ano e sempre defendeu mudanças no sistema de saúde. O senador republicano John McCain, derrotado nas eleições do ano passado, tentou até o final impedir a aprovação. "Eles podem ter 60 de cem senadores, mas 60% dos americanos são contra", disse para uma rede de TV.