Título: Fracasso da COP-15 gera acusações
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Fonte: O Estado de São Paulo, 22/12/2009, Vida&, p. A18
Países tentam transferir a outros a culpa pela falta de um acordo climático com metas na reunião de Copenhague Depois do fracasso da 15ª Conferência do Clima das Nações Unidas (COP-15), que terminou sem metas concretas de redução dos gases-estufa e sem um texto que tivesse a aprovação de todas as nações em plenário, os países participantes iniciaram ontem um jogo de empurra em busca de um culpado.
A Grã-Bretanha acusou a China e os governos latinos de esquerda de não avançar nas negociações. Cuba classificou o Reino Unido como o algoz da conferência e disse que o presidente americano Barack Obama agiu de forma "imperial" e "arrogante". Já o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que os Estados Unidos estão "fazendo pouco" e que as discussões não avançaram por causa das metas apresentadas pelos americanos .
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, reconheceu ontem que os países "ainda não estão unidos na ação" contra a mudança climática, mas considerou o resultado da COP-15 um "grande progresso".
Ban afirmou também que durante 2010, quando está marcada uma nova reunião no México, os países-membros da ONU terão de trabalhar muito para fazer com que o acordo parcial alcançado na Dinamarca seja ampliado e para que se torne um tratado que permita a cobrança internacional do cumprimento das metas.
A COP-15 terminou sábado com um acordo político costurado entre EUA, China, Índia, Brasil e África do Sul. Ao ser levado para o plenário, o texto foi rejeitado por Tuvalu, Venezuela, Nicarágua, Cuba, Bolívia. A União Europeia (UE) disse ter se sentido excluída. Hoje, os ministros europeus devem se reunir para estudar como reconduzir as negociações no ano que vem. "Ninguém sabe o que fazer", reconheceu uma fonte diplomática.
Em artigo no jornal The Guardian, o ministro britânico do Meio Ambiente, Ed Miliband, acusou China, Sudão, Bolívia e governos de esquerda da América Latina de tentarem sequestrar a cúpula da ONU para impedir um acordo. "Não conseguimos um acordo para reduzir 50% das emissões globais até 2050 ou para reduzir 80% nos países desenvolvidos. Ambas foram vetadas pela China, apesar do apoio de uma coalizão de países desenvolvidos e da ampla maioria das nações em desenvolvimento", disse.
Em resposta às acusações, o primeiro-ministro chinês, Wen Jinbao, afirmou que seu país teve um papel "importante e construtivo" na reunião. Já Yi Xianliang, funcionário do Ministério de Relações Internacionais da China, avisou que o país vai encarar as negociações sobre a criação de um pacto vinculante em 2010 como uma luta pelo "direito de se desenvolver".
O chanceler cubano, Bruno Rodríguez, por sua vez, acusou a Grã-Bretanha de desempenhar o papel de algoz em Copenhague e qualificou de mentirosas as declarações de Miliband.
Rodríguez afirmou ainda que os britânicos advertiram que os países que não aderissem ao acordo não poderiam usar os recursos que estavam oferecendo. O cubano acusou Obama de manter uma atitude "imperial e arrogante".
Para o presidente colombiano, Álvaro Uribe, o fato de o acordo alcançado em Copenhague não incluir sanções, cria dúvidas sobre sua "sinceridade". Ao ser questionado sobre quem seria, na sua opinião, responsável pelo fracasso da COP-15, Uribe disse que "apontar culpados afetaria o consenso requerido".
A chanceler alemã, Angela Merkel, disse que o fraco resultado de Copenhague não terá consequências negativas sobre os objetivos alemães de reduzir as emissões de CO2 em 40% até 2020.