Título: Para novo presidente do Inep, preço não é tudo em licitação
Autor: Paraguassú, Lisandra
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/12/2009, Vida&, p. A22
Joaquim José Soares Neto diz que segurança e logística do Enem devem ser consideradas
O novo presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), Joaquim José Soares Neto, apresentado ontem pelo ministro da Educação, Fernando Haddad, disse que uma licitação com base apenas em preço não atende as especificidades de uma prova como o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Ele se referia ao acontecido neste ano quando uma falha de segurança na impressão da prova, organizada pelo consórcio vencedor, permitiu que ela fosse furtada - o que foi noticiado com exclusividade pelo Estado.
"O ponto é que a licitação precisa de formas de escolha em que a segurança e a logística tenham grande peso, não apenas o preço. O exemplo que eu tenho é a última licitação. Se uma empresa ganha no preço, sem estrutura, vai economizar na segurança. Isso vale para todos os concursos públicos", avaliou.
O fato de Neto ser ex-diretor do Centro de Seleção e Promoção de Eventos (Cespe) da Universidade de Brasília (UnB) revela a intenção do MEC de transformar o Cespe em órgão oficial da realização do novo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) a partir de 2010. "Uma avaliação do porte do Enem depende de estabilidade nas regras de aplicação. A USP criou uma fundação de direito privado para o seu vestibular, que tem 150 mil, 170 mil pessoas. O Enem teve 4,2 milhões", justificou Haddad. "Não é o caso de o Inep repensar essa questão de logística, segurança?"
Haddad defende, desde o furto da prova do Enem, em outubro, que a realização de um exame desse porte não pode estar sujeito às regras de licitação comuns. Sua ideia é firmar um contrato com a Cespe, um órgão público vinculado à UnB. O novo diretor, vindo diretamente da UnB, onde foi responsável pela criação do setor de avaliação, facilita esse contato, admite Haddad.
Mesmo dizendo que ainda vai fazer uma análise da situação e apresentar um plano de trabalho a Haddad em janeiro, Neto adiantou que pretende manter a estrutura de segurança e distribuição usada este ano, na segunda versão da prova. Defendeu a necessidade de uso da inteligência da Polícia Federal para evitar mais tentativas de fraudes e a logística dos Correios para distribuição. "Foi uma estrutura fundamental e que funcionou fantasticamente bem", disse.
Formado em física molecular pela UnB, com mestrado na própria universidade e doutorado na Dinamarca, Neto trabalha com avaliação desde o final da década de 90, quando ajudou a formatar esse departamento no Cespe. Assumiu a direção do centro em julho de 2008 e trabalhou com o Inep na formatação e aplicação da segunda versão do Enem. Substitui Reynaldo Fernandes, que pediu demissão na segunda-feira passada. Desde o vazamento do Enem o órgão ficou fragilizado e o MEC já tinha avisado que haveria reestruturação no quadro de funcionários. A situação piorou com a divulgação do gabarito oficial com as respostas embaralhadas.