Título: Queda de investimento estrangeiro no Brasil supera a média mundial
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/01/2010, Economia, p. B7

Segundo Unctad, fluxo de IED para o País teve redução de 49% em 2009, ante média global de 39%

Com multinacionais repatriando recursos de suas filiais para socorrer as matrizes e desinvestimentos com a venda de parcelas de empresas estrangeiras ao capital nacional, o Brasil sofreu uma queda dos investimentos em 2009 mais profunda do que a média mundial.

O País, assim, perde posições no ranking dos maiores destinos de investimento estrangeiro direto (IED). Segundo dados divulgados ontem pela Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad), o Brasil registrou redução de 49% nos investimentos, em relação à média mundial, de queda de 39% entre 2008 e 2009. De acordo com a entidade, no mundo, uma recuperação sólida de investimentos apenas será sentida em 2011.

O Brasil passou a ser o país dos Brics (grupo formado por Rússia, Índia e China, além do próprio Brasil) que recebeu o menor volume de investimentos no ano passado. A queda porcentual dos investimentos no Brasil também foi a maior do grupo. A menor foi a da China (-2,6%), seguida por Índia (-19%) e Rússia (-41,1%).

Já a China abandonou a sexta posição no ranking de maiores destinos de investimentos, superou França e Reino Unido e passou a ser em 2009 o segundo maior destino de investimentos no mundo, superada apenas pelos Estados Unidos. Se os investimentos em Hong Kong forem adicionados, a China praticamente se iguala aos americanos.

A crise econômica fez com que os fluxos de investimentos diretos desabassem em 39% em todo o mundo no ano passado. Isso depois de, em 2008, o fluxo já ter sido reduzido em 14%. No Brasil, a retração foi de 49%.

No total, o fluxo de investimentos chegou a pouco mais de US$ 1 trilhão em 2009 no mundo, contra US$ 1,7 trilhão em 2008. Em termos gerais, a queda de fluxo de investimentos foi registrada em todas as grandes economias. Nos países ricos, a queda já vinha ocorrendo em 2008. Mas, no ano passado, a redução atingiu 41%. As maiores quedas ocorreram nos EUA, Reino Unido, Espanha, França e Suécia.

MERCADO AMERICANO

Nos Estados Unidos, a redução de entrada de recursos foi de 57% em parte por causa da queda do número de fusões. Depois de receber US$ 316 bilhões em 2008, a economia americana recebeu US$ 135,9 bilhões em 2009.

Na Europa, a queda dos lucros e os empréstimos retornando às matrizes das multinacionais reduziram o ritmo de investimentos. A queda foi de 63% na República Checa e de 92% no Reino Unido. Os ingleses, que receberam US$ 96 bilhões em 2008, foram o destino de apenas US$ 7 bilhões em 2009, menos que México ou Chile e quase na mesma proporção da Argentina.

Já nas economias emergentes, a queda do IED foi de 35% em 2009, passando de US$ 620 bilhões em 2008 para US$ 405 bilhões no ano passado. Isso depois de seis anos de crescimento. Dois fatores foram fundamentais: a queda de lucros das empresas e a redução dos valores das ações, reduzindo o interesse por fusões.

MERCADO BRASILEIRO

No Brasil, os investimentos em 2008 chegaram a US$ 45,1 bilhões, o que colocava o País como o 9º maior destino no mundo. Em 2009, o total de investimentos chegou a US$ 22,8 bilhões, uma queda de 49,5% e que colocou o País na 12ª posição dos maiores receptores do mundo. Itália, Índia e Alemanha superaram o Brasil durante o ano.

James Zhan, autor do estudo da Unctad, afirmou ontem que a economia brasileira havia resistido de forma "relativamente positiva" aos efeitos da crise de 2009. Para Zhan, o problema não é tanto o Brasil, mas a situação internacional.

"O problema está do lado do fornecimento de investimentos. A queda foi geral em todo o mundo", disse Zhan. Segundo ele, dois fatores contam na redução no Brasil. O primeiro é a queda real de investimentos nos setores de mineração, refinaria e recursos naturais.

Mas o que mais teria pesado seria a decisão de multinacionais de repatriar lucros das filiais no Brasil para ajudar a lidar com a crise em suas matrizes. Enquanto os lucros de algumas multinacionais desabaram nos países ricos, suas filiais nos mercados emergentes mantiveram bons resultados. Com esse fenômeno, o dinheiro que seria usado para investimentos acabou retornando para os países de origem dos investimentos, como nações da Europa, Estados Unidos ou Japão.

Mesmo com a queda, o Brasil continua sendo o maior destinatário de investimentos da América Latina, que teve queda de 40,7%. Todo o continente recebeu apenas US$ 85 bilhões em 2009, menos que a China.

O México foi o segundo maior destino, com US$ 13 bilhões, seguido de perto pelo Chile. Já a Argentina foi superada pelo Peru e Colômbia como maiores destinos de investimentos estrangeiros na América Latina.