Título: Saúde de major da Condor complica sua extradição
Autor: Palacios, Ariel ; Arruda, Roldão
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/01/2010, Nacional, p. A8

Argentina quer julgar Cordero, que deve fazer exames em Porto Alegre, pelo desaparecimento de dez pessoas e sequestro de um bebê

A extradição do major uruguaio Manuel Juan Cordero Piacentini para a Argentina ganhou ontem um novo fator complicador. Após o médico particular do militar afirmar que seu estado de saúde piorou, o advogado Julio Favero requereu à Justiça licença para transferi-lo de Santana do Livramento, no Rio Grande do Sul, para a capital, Porto Alegre. Ele seria levado para o Instituto do Coração para novos exames cardiológicos.

O major, de 71 anos, é acusado de ter participado da Operação Condor, articulação secreta entre os órgãos de repressão política das ditaduras do Cone Sul, nos anos 70 e 80, que permitia perseguir os opositores dos regimes além da fronteira de cada país. A sua extradição foi requisitada pela Justiça da Argentina, que pretende julgá-lo pelo desaparecimento de dez pessoas e sequestro de um bebê. Ele também é apontado como autor de torturas em 32 prisioneiros políticos.

A extradição foi concedida após um longo debate no Supremo Tribunal Federal (STF). Na terça-feira, porém, quando os agentes da Polícia Federal foram até sua casa, onde cumpria prisão domiciliar, para levá-lo à fronteira argentina, o major reformado alegou um mal súbito e foi internado para exames. Até ontem ele seguia internado num hospital em Santana do Livramento, assistido pelo seu médico particular, Leandro Tholozan.

Na capital argentina, o militar da reserva é esperado pelo juiz Norberto Oyarbide, encarregado das investigações sobre a Operação Condor. Até ontem, segundo informações de assessores do juiz, as autoridades brasileiras ainda não haviam confirmado a data da entrega do prisioneiro. De acordo com as mesmas fontes, quando chegar à Argentina, ele passará por exames médicos, antes do início do julgamento.

Na terça-feira a Interpol chegou a mandar seus agentes para Paso de Los Libres, na fronteira da Argentina com o Brasil. O major acusado de crimes de violação de direitos humanos seria entregue a eles no meio da ponte que separa aquela cidade de Uruguaiana, no território brasileiro.

Há cerca de um ano, alegando problemas de saúde, Cordero conseguiu autorização do STF para sair da prisão e aguardar a extradição em sua casa, em Santana do Livramento. Meses depois ele foi flagrado pelo Canal 12, a TV uruguaia, fumando e bebendo em bares da cidade, violando as regras de prisão domiciliar.

Cordero foi um dos principais agentes dos chamados organismos de operações subversivas do Uruguai e atuava com frequência na Argentina, perseguindo e torturando uruguaios refugiados. Em 2004, às vésperas de ser detido em seu país, ele se refugiu no Brasil, onde foi localizado. Logo depois a Justiça argentina solicitou sua extradição, que foi autorizada no ano passado, pelo STF.

ENTENDA O CASO

Crimes: Manuel Cordero é acusado de participar da Operação Condor, que, na década de 1970, uniu polícias políticas do Chile, Argentina, Uruguai, Paraguai, Bolívia e Brasil. A operação permitia perseguir e capturar opositores dos regimes militares além das fronteiras

Fuga: Cordero fugiu do Uruguai em 2004. Foi preso em 2007 no Brasil, mas conseguiu direito a prisão domiciliar, em Santana do Livramento (RS)

Extradição: Em 2005, pediu asilo político, que foi negado. No mesmo ano, o governo argentino pediu sua extradição. Em agosto de 2009, o Supremo Tribunal Federal autorizou a extradição para a Argentina. A redação final da decisão só foi publicada em dezembro. Na semana passada, Cordero entrou com ação no STF para reverter a decisão, mas a corte recusou o pedido.