Título: Governo prepara operação para tirar 400 mil de Porto Príncipe
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/01/2010, Internacional, p. A10

Desabrigados serão levados para o interior e ficarão em "cidades improvisadas"; objetivo é aliviar pressão sobre ONGs

Diante das dificuldades de socorrer um país arrasado pelo terremoto do dia 12, o governo do Haiti prepara-se para dar início a uma megaoperação para levar 400 mil pessoas para o interior e criar "cidades improvisadas" - eufemismo para acampamentos de desabrigados -, cada uma para acomodar cerca de 10 mil pessoas em tendas.

O anúncio foi feito pelo ministro do Interior, Paul Antoine Bienaimé, em um novo plano em conjunto com as agências internacionais para evitar a proliferação de doenças em Porto Príncipe. A iniciativa é uma tentativa de dar uma resposta às críticas de que o sistema de distribuição de alimentos e remédios não está funcionando. A ONU estima que terá de alimentar cerca de 2 milhões de desabrigados pelo terremoto por cerca de seis meses (leia quadro).

A esperança é a de que esses novos acampamentos ou "cidades" aliviem a pressão contra o governo e as agências internacionais de ajuda humanitária. Segundo informações da ONU, um batalhão do Brasil está erguendo um campo de desabrigados no bairro de Croix des Bouquets, a 13 quilômetros da capital, que poderia abrigar temporariamente até 30 mil pessoas. O objetivo no médio prazo é construir casas no local com financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Estimativas da ONU apontam que cerca de metade dos edifícios de Porto Príncipe foi destruída ou gravemente danificada.

A Organização Internacional de Migrações (OIM), responsável pelos abrigos, calcula que 500 mil pessoas estão vivendo hoje nas ruas e terrenos abandonados de Porto Príncipe, sem proteção, água ou higiene básica. No total, 447 campos improvisados na cidade já foram identificados.

Grande parte da população da capital e do seu entorno ainda está dormindo nas ruas, ou porque suas casas ruíram ou por medo de que um novo tremor, como o que ocorreu na quarta-feira, atingindo 5,9 graus na escala Richter, derrube ou acabe de derrubar a sua.

Diante da proliferação desses abrigos improvisados, um dos riscos apontados pela ONU é que haja um surto de doenças. "A falta de água potável e de infraestrutura sanitária pode conduzir a doenças", disse o escritório da ONU para Assuntos Humanitários em sua avaliação de ontem. A infecção de ferimentos permanece como um dos problemas mais sérios.

Milhares de pessoas já abandonaram a capital em direção ao interior, revertendo um fluxo migratório dos últimos anos. Muitos vão em busca de parentes e amigos que estejam vivendo em regiões onde o tremor teve menor impacto.

Ontem, o governo colocou à disposição 34 ônibus para quem quisesse deixar Porto Príncipe. Segundo a OIM, muitos desses desabrigados vão em direção ao sul e sudoeste "caminhando sem destino".

A entidade negou que haja um "êxodo em massa" para a República Dominicana. Mas admite que alguns hospitais na fronteira estão saturados e não podem mais receber pessoas.