Título: País nega disputa com EUA por comando da missão
Autor: Mendes, Vannildo ;Scinocca, Ana Paula
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/01/2010, Internacional, p. A15

Reservadamente, porém, militares brasileiros estão insatisfeitos com ação dos americanos

Em meio ao mal-estar político entre EUA e Brasil, três militares americanos de alto escalão fizeram ontem uma visita ao general João Batista Bernardes, comandante do batalhão brasileiro no Haiti. Na conversa, eles discutiram a parceria que farão na ajuda humanitária e segurança da capital após o terremoto do dia 12. Os americanos tiveram de dar explicações sobre o pouso de 20 helicópteros Black Hawk no gramado do Palácio Nacional, na terça-feira.

Logo após o encontro, o embaixador do Brasil no Haiti, Igor Kipman, reuniu-se com o coronel Bernardes para falar sobre a reunião com os americanos. Oficialmente, os EUA cuidarão apenas da ajuda humanitária, mantendo a segurança em mãos brasileiras. A visita dos foi encarada pelo comando militar brasileiro como estratégica para diminuir o desgaste entre os dois países . "É um gesto de boa-vontade", avaliou Bernardes. "Eles vieram com o intuito de coordenar as ações em que estão atuando."

O coronel disse que o desembarque dos helicópteros no Palácio Nacional, segundo relato dos americanos, não passou de um "treinamento para usar o gramado como palco de resgate de sobreviventes".

Nas ruas da capital do Haiti, patrulhas americanas circulam com timidez, mas desempenhando algumas das funções que seriam das forças de paz, como a segurança de comboios. Os EUA estão controlando o aeroporto de Porto Príncipe. Integrantes das tropas brasileiras não escondem, em conversas reservadas, o descontentamento com a posição americana. Eles estão insatisfeitos com a divulgação do aumento da violência no Haiti após o terremoto e avaliam que isso faz parte de uma tática dos EUA para tirar do Brasil o controle da segurança no país.

AMORIM

O chanceler brasileiro, Celso Amorim, desembarca hoje no Haiti para acompanhar o auxílio ao país. Ele classificou de "suposições mesquinhas" as notícias de que Brasil e EUA estejam em disputa pelo comando da ação humanitária.

"Não estamos disputando liderança com ninguém. O Brasil está desempenhando sua tarefa. E os EUA estão mandando forças que estão dando ajuda na parte humanitária", afirmou. "Claro que nessas situações ocorrem percalços. A secretária de Estado (dos EUA, Hilary Clinton) foi muito solícita, determinou que se desse atenção e prioridade adequada ao Brasil e a outros países que estão ajudando."

Na segunda-feira, o chanceler participará, no Canadá, da reunião preparatória para a conferência de doadores ao Haiti. Ele disse ter relatos de que a distribuição de água e comida está se normalizando, mas ainda há muitas dificuldades no atendimento aos feridos.

Amorim afirmou que o Congresso deve aprovar em breve o envio de mais 1.300 militares para o Haiti. Segundo ele, o reforço não será enviado todo de uma vez, mas de acordo com as necessidades da ONU e do governo haitiano.