Título: Aperto monetário é inevitável, diz analista
Autor: Trevisan, Cláudia
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/01/2010, Economia, p. B3
O ritmo de expansão da economia chinesa no fim de 2009 revela que há risco de aquecimento excessivo em 2010. Desde o início do ano, o país já aumentou os depósitos compulsórios e o juro de títulos, mas será inevitável elevar a taxa de referência de um ano. O aperto pode ocorrer em março, disse o diretor de pesquisa do banco de investimentos RBC Capital Markets, Nick Chamie, à Agência Estado.
O país cresceu a uma taxa de 8,7% em 2009 - 10,7% só no trimestre final do ano. "Há setores exibindo um ritmo muito rápido de crescimento, como o de imóveis, que representa uma preocupação crescente", afirmou o economista. Outra área de atenção é a de empréstimos bancários.
Chamie avalia que as autoridades chinesas devem continuar atuando em mais de uma frente para evitar uma bolha de ativos. Para ele, será preciso desacelerar o ritmo de concessão de crédito bancário, elevar, lentamente, o juro e os depósitos compulsórios e permitir que a moeda, o yuan, se valorize. A taxa de referência de um ano, que é calibrada pelo Banco do Povo da China (o BC), está atualmente em 5,31%.
Em alguns meses, o analista avalia que será inevitável haver um ajuste no yuan. "As exportações se recuperam e deve haver melhora nos próximos meses. Isso deve dar conforto às autoridades para permitir que a moeda volte a se valorizar."
Na visão de Chamie, os países emergentes são os que mais sentirão o impacto da trajetória de aperto monetário da China. No curto prazo, o Brasil pode experimentar enfraquecimento ocasional do real, com possibilidade de que o dólar oscile em torno de R$ 1,85.
Desde o início do ano, o país já elevou os depósitos compulsórios e os juros de títulos no mercado interbancário para tentar conter o avanço das pressões inflacionárias. A perspectiva de que haverá aprofundamento do aperto já tem causado volatilidade, com a realização ocasionais de lucros nos mercados financeiros mundiais.
Chamie estima que a elevação da taxa de referência de um ano pelo BC, atualmente em 5,31%, deve ocorrer em março. Entre os emergentes, o analista observa que o Brasil deve sentir impacto de forma clara. "A China se tornou o maior parceiro comercial do País", disse. Por isso, no curto prazo, em reação à aguardada elevação da taxa de referência chinesa, Chamie avalia que a moeda brasileira pode ter um enfraquecimento ocasional, com possibilidade de o dólar rumar para R$ 1,85.
O analista destaca, no entanto, que os fundamentos de longo prazo para o real devem fazer com que a moeda continue a se fortalecer em direção ao intervalo de R$ 1,60 a R$ 1,65 por dólar ao longo do ano.
Apesar dos efeitos que o aperto da política monetária chinesa possa provocar em outras economias no curto prazo, o diretor do RBC estima que elevar o juro mais cedo do que tarde é essencial para evitar aquecimento excessivo da economia local e "permitir que o ciclo de crescimento chinês continue por um período prolongado".
Deixar a situação sair do controle, disse ele, obrigaria o BC a pisar com força nos freios depois.