Título: Após 7 meses de impasse, Shannon é confirmado embaixador no Brasil
Autor: Chacra, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/12/2009, Nacional, p. A4

Indicação de Obama havia ficado parada no Senado americano em meio à polêmica da deposição de Zelaya

Depois de quase sete meses, o Senado dos Estados Unidos finalmente aprovou o nome de Thomas Shannon como o novo embaixador americano em Brasília. Sua nomeação era tida como chave para as relações entre as administrações de Barack Obama e Luiz Inácio Lula da Silva, que se desgastaram nos últimos meses.

O presidente dos EUA indicou Shannon para o cargo em 27 de maio. Nessa época, o futuro embaixador ocupava o cargo de subsecretário de Estado para o Hemisfério Ocidental, que é o responsável pela diplomacia americana para a América Latina. Às vésperas de sua aprovação pelo Senado, em meados deste ano, o senador republicano Joe DeMint o vetou, por causa da posição do governo Obama diante da deposição de Manuel Zelaya da Presidência de Honduras.

Além de Shannon, seu sucessor no cargo de subsecretário de Estado, Arturo Valenzuela, também foi vetado pelo republicano na mesma época. Segundo analistas, como Christopher Sabatini, do Council of the Americas, em Nova York, essa medida deixou o governo americano sem comando na formulação da política para América Latina.

No mês passado, depois de os EUA conseguirem um acordo entre os lados envolvidos na crise hondurenha, DeMint levantou o veto e Valenzuela foi aprovado. Já Shannon teve o nome vetado de novo. Desta vez, pelo senador George LeMieux, também do Partido Republicano. Assim como DeMint, ele discordava das posições da Casa Branca em relação à crise hondurenha e usou o veto como forma de pressão. Representante da Flórida, onde existe expressiva população hispânica, o senador, assim como a maior parte de seu partido, afirma que a deposição de Zelaya foi constitucional.

Já a administração Obama classifica como golpe. O senador também mantinha restrições em relação à política americana para Cuba. O veto de LeMieux foi levantado na semana passada, depois que os EUA reconheceram a eleição de Porfírio Lobo para a Presidência de Honduras.

Shannon é fluente em português e espanhol e trabalhou no fim da década de 1980 e início dos anos 1990 na Embaixada dos EUA em Brasília, onde nasceu um de seus filhos. Ao longo de sua carreira diplomática, exerceu cargos em administrações republicanas e democratas. É visto como um maiores especialistas americanos em Brasil e etanol, além de ser considerado fundamental para os EUA em um momento em que o peso político internacional do Brasil cresce.

As relações entre os EUA e o Brasil começaram bem neste ano, com a visita de Lula à Casa Branca. Os dois governos, inicialmente, também mantiveram posições similares na crise hondurenha. A questão envolvendo as bases americanas na Colômbia e a reação considerada desproporcional dos brasileiros alteraram o cenário e levaram a uma irritação de Washington com Brasília. A posição do Brasil em se negar a reconhecer a eleição presidencial em Honduras afastou ainda mais Lula e Obama. O mal-estar se intensificou com a visita do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, ao Brasil. Na visão dos EUA, o País pode receber quem quiser, mas essa atitude fortaleceu a posição do líder iraniano diante dos protestos de opositores em Teerã e deu certa legitimidade a um regime que, segundo Washington, desenvolve ilegalmente armas nucleares - o que o Irã nega.