Título: PSB resiste a pressão para tirar Ciro da luta
Autor: Samarco, Christiane
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/01/2010, Nacional, p. A6
Em reunião com Lula, Campos reafirma que decisão só ocorrerá em março
O PSB resistiu à pressão do PT e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a decisão sobre a continuidade ou não da candidatura do deputado Ciro Gomes (CE) à Presidência somente será definida em março. O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, presidente do PSB, e Lula fizeram os acertos sobre a questão ainda antes do jantar marcado para o Palácio Campo das Princesas, exatamente para tratar da candidatura Ciro.
Como tudo foi combinado antes entre Lula e Campos, o jantar, que seria restrito, acabou ganhando número muito maior de convidados, a ponto de o cerimonial do governo de Pernambuco ter de reservar dois andares do palácio para abrigar tanta gente. Até ministros que não têm nada que ver com as negociações entre o PT e o PSB, como o do Meio Ambiente, Carlos Minc, apareceram para o jantar. Também estavam presentes a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), Alexandre Padilha (Relações Institucionais), Franklin Martins (Comunicação de Governo), secretários do governo de Pernambuco e familiares, além de dirigentes socialistas.
"Nada do que já estava combinado há oito meses com o presidente Lula mudará. Decisão sobre a candidatura de Ciro Gomes só em março, que é a data certa para isso", disse Campos. "A oposição não vai saber o que vamos fazer. Está ansiosa para que indiquemos o que vamos fazer, mas não vai saber."
SEM AMADORES
Lula e Campos passaram toda a parte da tarde juntos, em diversas solenidades. Tiveram tempo de conversar à vontade. De acordo com o governador, da decisão final participarão o PSB e Lula, além do próprio Ciro. "Esta não será uma decisão a ser tomada por amadores, ou pela imprensa. Será tomada pelo PSB, pelo presidente Lula e pelo deputado Ciro Gomes. É assim que as coisas são feitas". O PSB tem se queixado da pressão do PT para que Ciro recue, principalmente por intermédio de declarações dos petistas aos meios de comunicação. Campos pediu a Lula que mande o PT calar a boca por enquanto.
Para o governador, a estratégia com Ciro candidato tem dado certo. "Quem primeiro lançou o nome de Ciro foi o presidente Lula. De lá para cá, as pesquisas indicam que, somadas as intenções de voto em nosso candidato e na ministra Dilma, do PT, temos maior número do que o outro candidato (José Serra), que tem visibilidade, disputou eleição presidencial, foi ministro, prefeito e é governador de São Paulo. Nossa estratégia está correta, porque nos interessa manter o projeto de mudanças iniciado pelo presidente Lula", disse Campos.
Ele afirmou ainda que o fato de Ciro ter mantido a candidatura durante todo o ano de 2009 foi fundamental para os partidos da base aliada. "Se ele tivesse retirado seu nome, hoje muitas composições partidárias, formação de chapas, alianças, poderiam estar em outro rumo, porque teríamos a falsa ideia de que o candidato da oposição poderia ser imbatível", analisou.
FATOR CHILE
Lula tem insistido em ter um nome só da base aliada para disputar a sucessão presidencial com base na experiência das eleições do Chile. Lá, dividida, a base de sustentação da presidente Michele Bachelet perdeu para o oposicionista Miguel Sebastián Piñera. Lula concordou em voltar a conversar com Campos em março, quando os dois viajarão para Salgueiro, no Sertão, onde vão inaugurar, nas palavras do presidente, "a maior fábrica de dormentes de concreto para linhas de trem de ferro do mundo", e uma fábrica gigante de brita.
Lula acredita que a forma mais simples de os petistas e seus aliados vencerem a oposição será manter a disputa polarizada. "O presidente Lula acha que temos de ter uma disputa polarizada, uma candidatura única do conjunto da base porque está entendido que ele quer uma eleição do tipo "quem sou eu e quem és tu"", disse Alexandre Padilha.