Título: PT e MST protestam contra prisões
Autor: Arruda, Roldão
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/01/2010, Nacional, p. A11
Políticos e líderes acusam polícia de ter agido com fim eleitoral ao prender envolvidos em depredação de fazenda
Políticos do PT e líderes de organizações ligadas à defesa da reforma agrária acusaram ontem a Polícia Civil do Estado de São Paulo, subordinada à Secretaria de Segurança Pública, de ter agido com objetivos políticos e eleitorais no episódio da detenção de líderes do Movimento dos Sem-terra (MST), na terça-feira. Hoje, no Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, haverá um ato de protesto contra a ação policial.
As prisões, nos municípios de Iara e Borebi, fazem parte da Operação Laranja, que investiga a destruição de um laranjal e a depredação das instalações de uma fazenda da empresa Cutrale, por militantes do MST, em outubro do ano passado. Entre os detidos estavam dois políticos filiados ao PT.
Ontem, o deputado estadual Simão Pedro (PT), da Frente Parlamentar pela Reforma Agrária, pediu explicações ao governo sobre possíveis irregularidades na operação. "O PT condena a destruição do laranjal, mas não podemos concordar com o fato de os advogados não terem tido acesso aos autos do inquérito. Isso tolhe o direito dos presos."
O coordenador nacional da área de movimentos sociais do PT, ex-deputado Renato Simões, criticou a polícia por ter distribuído os detidos por diferentes locais da região de Bauru, dificultando a ação da defesa e o contato dos familiares. "O episódio mostra o que pode ser a política de José Serra em relação aos movimentos sociais, caso seja eleito presidente", disse.
Simões também criticou o que chamou de "espetacularização" do fato, com a filmagem das prisões por uma TV local. Para a Comissão Pastoral da Terra (CPT), a operação faz parte de uma ofensiva para criminalizar movimentos sociais.
"A foto publicada no Estado, com um homem algemado e puxado por um policial, diz tudo sobre a cultura jurídica em vigor neste país, onde qualquer pobre que se organiza é visto como criminoso", disse Dirceu Fumagalli, da Pastoral. Segundo Gilmar Mauro, da coordenação nacional do MST, a ação policial foi "um show pré-eleitoral".
Ontem, o delegado responsável pela operação, Benedito Valencise, da Seccional de Bauru, refutou as acusações. "O inquérito foi instaurado há vários meses e é público", afirmou. Ele também disse que não houve contato prévio com a imprensa e que as prisões de políticos do PT não tiveram conotação política: "Temos elementos que deixam patente a participação dos dois nos crimes."
O Palácio dos Bandeirantes não quis comentar as críticas. Na Assembleia Legislativa, o deputado Milton Flávio (PSDB), vice-líder do governo, atacou os petistas: "É lamentável que o PT tente fazer de um fato jurídico um fato político de terrorismo eleitoral."