Título: Zelaystas marcham e dizem seguir na luta
Autor: Simon, Roberto
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/01/2010, Internacional, p. A12

Milhares foram até o aeroporto demonstrar apoio ao presidente deposto

Com a promessa de "seguir na luta", milhares de hondurenhos marcharam ontem da Universidade Pedagógica de Tegucigalpa até a região do aeroporto de Toncontín, de onde o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, deveria embarcar para a República Dominicana. A marcha foi a maior mobilização popular desde setembro, quando Zelaya voltou escondido a Honduras e buscou refúgio na embaixada brasileira.

No trajeto pela capital, manifestantes empunhavam bandeiras vermelhas com o rosto de Zelaya ao estilo Che Guevara e caricaturas do presidente de facto, Roberto Micheletti, como um gorila. Caminhavam entoando músicas que, durante os oito meses de protestos, tornaram-se uma espécie de trilha sonora zelaysta.

"Ele vai voltar, isso é certeza", dizia a empresária Miriam Mejía, que calcula já ter participado de pelo menos 50 manifestações em apoio a Zelaya. Na véspera de sua saída, o líder deposto afirmara que "um dia volta" a Honduras.

Convocada pela Frente Nacional de Resistência (FNR), o principal grupo de apoio a Zelaya, a marcha teve participação de sindicatos e organizações populares, mas pessoas da classe média de Tegucigalpa também aderiram à passeata. Acompanhada de sua mãe e avó, Marília Alvarado, estudante de 15 anos, disse que estava na marcha para denunciar "a arbitrariedade e o desrespeito à Constituição".

Diferentemente das manifestações que sucederam ao retorno do deposto, a de ontem não teve episódios de violência entre membros da FNR e forças de segurança. Policiais olhavam de longe os opositores e organizavam o trânsito. Na multidão, a vice-chanceler de Zelaya, Beatriz Valle, declarou ao Estado que zelaystas continuarão a não reconhecer o governo de Porfírio "Pepe" Lobo.

À exceção do Canal 36, que apoia abertamente Zelaya, as TVs hondurenhas ignoraram a manifestação para transmitir a íntegra da cerimônia de posse ao vivo. Quando o carro velho da emissora pró-Zelaya, conduzido pelo âncora da TV, chegou ao protesto e começou a buzinar para pedir licença aos manifestantes, foi recebido com festa: "Está aí a última voz do povo", gritou um opositor.