Título: Posição do Brasil é a mesma, diz Amorim
Autor: Simon, Roberto
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/01/2010, Internacional, p. A12

Para chanceler, ainda é cedo para restabelecer laços plenos com Honduras

O chanceler Celso Amorim deixou claro ontem que as medidas tomadas em Honduras nos últimos dias não farão com que o Brasil normalize as relações com o novo governo. O ministro indicou que "não tem pressa" em rever a posição do País e alertou que, primeiro, acompanhará como as forças políticas que foram depostas serão tratadas pelo presidente Porfírio "Pepe" Lobo. "No momento, não há o que mudar (na posição do Brasil)", disse.

Para Amorim, a decisão do Brasil de hospedar Manuel Zelaya na embaixada evitou uma violência maior. Em Genebra, o chanceler insistiu que as medidas tomadas nos últimos dias para garantir a saída de Zelaya do país, como a anistia e outras iniciativas, "só ocorreram por que Zelaya estava na embaixada". "Caso contrário, (Roberto) Micheletti ficaria até o ultimo dia", disse.

Amorim afirma não estar satisfeito com o destino da crise em Honduras. "Mas é melhor do que aquilo que poderia ter ocorrido", disse. Em sua avaliação, as medidas anunciadas nos últimos dias foram "passos em uma boa direção". "Isso, porém, não mudará o que pensamos sobre o processo eleitoral."

Amorim garante que o governo não apresentou uma lista de condições às novas autoridades em Honduras. "A única condição era que Zelaya voltasse. Agora, veremos como as coisas evoluem." O chanceler admitiu que também acompanhará como os países vizinhos de Honduras tratarão a situação.

"Não podemos ignorar as posições de países da região, como a Guatemala e a República Dominicana. Não é que vamos seguir o que eles fizerem, mas vamos olhando e vendo qual será o tratamento a Zelaya e às forças que o apoiam", disse.

Antes, ao Estado, Amorim insistiu que era cedo para avaliar o comportamento de Lobo, mas reiterou que o Brasil continua contra a eleição. "Não vou dizer que a solução lá foi boa (a eleição de Lobo). Todos sabem o que achamos. Contudo, poderia ter sido pior. O correto seria a realização de eleições com o presidente Zelaya no poder. No entanto, pelo menos a sua presença diminuiu o grau de violência."

Sobre o reconhecimento do novo governo, Amorim disse que a questão "não é essa". "O Brasil não reconhece governos, reconhece Estados. O problema, portanto, não é o de reconhecer o governo, mas sim o tipo de relação que quereremos manter. Isso dependerá da evolução da situação."