Título: Zelaya deixa embaixada brasileira e Honduras, mas avisa: Voltarei
Autor: Simon, Roberto
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/01/2010, Internacional, p. A12

Presidente deposto viaja para República Dominicana após posse de sucessor e põe fim a quase 8 meses de crise

O presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, partiu ontem para o exílio em um avião cedido pela República Dominicana, encerrando uma crise política que já se estendia por oito meses. Mas, ao sair da embaixada brasileira, onde estava abrigado desde 21 de setembro, Zelaya prometeu: "Voltaremos, voltaremos."

O líder deposto chegou ontem à noite em Santo Domingo com Xiomara, sua mulher, e Pichu, sua filha, horas após o presidente eleito Porfírio "Pepe" Lobo tomar posse. Cerca de 10 mil zelaystas despediram-se dele numa base aérea ao lado do aeroporto de Tegucigalpa - mesmo local de onde ele foi enviado para a Costa Rica. Desta vez, a multidão de partidários, de punhos ao ar, cantou o hino quando o avião com o presidente deposto decolou.

Zelaya será recebido na República Dominicana como "hóspede especial". Não está claro, porém, por quanto tempo ele permanecerá no país.

Pouco antes da partida de Zelaya, Pepe recebeu a faixa presidencial prometendo fazer "cicatrizar as feridas políticas do passado". Eleito em novembro já no primeiro turno, ele deverá agir para ser reconhecido como presidente legítimo pelos países que desqualificam sua vitória nas urnas argumentando que a campanha foi conduzida sob um regime de facto.

CALMA

Desde o início da tarde, dezenas de jornalistas aguardavam Zelaya na frente da embaixada. O presidente deposto acordou às 11 horas e recebeu a visita de sua mãe, Hortensia, com quem almoçou às 14 horas. O clima na embaixada era calmo, garantem testemunhas.

Zelaya saiu por volta das 16 horas da missão em um comboio de cerca de dez carros, seguido de dez seguranças em motocicletas. Antes de partir, ele recebeu na missão brasileira Lobo e o presidente Leonel Fernández.

Zelaya foi deposto em 28 de junho após tentar convocar uma consulta popular que abriria as portas para a realização de uma Assembleia Constituinte. O projeto havia sido vetado pela Suprema Corte e pelo Congresso, mas Zelaya insistiu em levá-lo adiante.

Na terça-feira à noite, a recém-empossada legislatura do Congresso hondurenho aprovou um projeto de anistia política para os envolvidos no golpe e em seus desdobramentos. A medida não livra Zelaya porque o deposto responde por 18 crimes comuns - incluindo peculato e abuso de poder.

Desde a deposição de Zelaya, o governo de facto era dirigido por Roberto Micheletti, que se afastou do poder há uma semana e não participou da cerimônia de posse.

Lobo assumiu com a promessa de "uma nova era de paz e democracia" para seus compatriotas e a volta de Honduras à comunidade internacional. "Começamos a caminhar por uma nova rota para melhorar a qualidade de vida de todos os hondurenhos", disse, em seu discurso de posse, após assinar o decreto de anistia - que só entra oficialmente em vigor 20 dias após a publicação no diário oficial.

A cerimônia, que só contou com a presença de dois presidentes latino-americanos - o da República Dominicana e o do Panamá -, foi realizada no Estádio Nacional de Tegucigalpa.

"Saímos da pior crise da história democrática de Honduras na qual demonstramos ao mundo que somos amantes da liberdade e da democracia", disse Lobo em seu discurso de inauguração. Ele prometeu ainda reverter o declínio da economia hondurenha, que viveu em 2009 seu pior ano desde 1999, quando o furacão Mitch destruiu grande parte do país. O novo presidente disse ser favorável a uma "economia de mercado com um Estado atuante".