Título: Garota é resgatada com vida após 15 dias
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/01/2010, Internacional, p. A14
Socorristas consideram um 'milagre' que adolescente tenha sobrevivido
SOBREVIVENTE - Jovem haitiana é resgata por socorristas franceses na capital: Darlene estava desidratada e com o batimento cardíaco baixo
PORTO PRÍNCIPE Equipes francesas resgataram ontem uma adolescente dos escombros de uma casa no câmpus da destruída Universidade St. Gerard, 15 dias após o terremoto que devastou Porto Príncipe. Os socorristas colocaram um cobertor térmico sobre Darlene Etienne, de 17 anos, e lhe deram oxigênio enquanto a levavam correndo a um hospital. "Foi um milagre", disse um socorrista.
"Ela estava em uma cavidade cercada de cimento, muito desidratada, com o batimento cardíaco e a pressão baixos", disse o porta-voz do serviço de Segurança Civil francês, Samuel Bernes. A jovem também tinha uma perna quebrada. Aparentemente, ela ficou soterrada perto do banheiro e teve acesso a água. Socorristas disseram que ela indicou que também tinha uma garrafa de refrigerante.
"Pensamos que ela estava morta", disse Jocelyn, uma prima de Darlene.
O último resgate confirmado de um sobrevivente do terremoto do dia 12 ocorreu no sábado, quando um homem foi retirado dos escombros de uma loja de alimentos debaixo de um hotel. Na terça-feira, socorristas americanos resgataram um homem de 35 anos, mas ele afirmou que havia sido soterrado em um dos tremores secundários.
O presidente haitiano, René Préval, afirmou ontem que "quase 170 mil corpos" já foram encontrados desde o dia 12. A cifra é bem superior à estimativa de 150 mil mortos feita pelas autoridades do país. Ele anunciou o adiamento, por tempo indefinido, das eleições programadas para 28 de fevereiro.
AMORIM
Criticando a demora dos países ricos em socorrer o Haiti, o chanceler brasileiro, Celso Amorim, disse ontem, em Genebra, que a ajuda dada pelo governo, por doadores individuais e por empresas brasileiras chegaria "perto de R$ 1 bilhão". Amorim disse também que os países desenvolvidos "deveriam fazer mais" pelo Haiti.
Segundo ele, reconstruir o país, mantendo intacta sua soberania, "é o maior desafio da comunidade internacional hoje". Ele participou ontem de uma reunião especial da ONU convocada pelo Brasil para garantir que a proteção aos direitos humanos no Haiti fosse respeitada no processo de reconstrução.