Título: Soros: contra bolhas, controle do crédito
Autor: Kuntz, Rolf
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/01/2010, Economia, p. B10/11

Investidor apoia Obama, mas diz que seu plano não resolve o problema

É preciso controlar o crédito para evitar bolhas, disse ontem o megainvestidor George Soros num almoço com jornalistas. Os chineses têm feito isso com sucesso, acrescentou. As autoridades, segundo ele, deveriam ser capazes de mandar aos banqueiros cartas de advertência do tipo: "Vocês têm dinheiro demais em imóveis". Não basta - esta é a mensagem - controlar o volume de dinheiro no mercado, como têm feito os bancos centrais.

Bolhas e regras para o setor financeiro foram o grande tema de Soros no encontro de ontem. Duas décadas de erros permitiram, segundo ele, a formação de uma superbolha, origem da crise ainda não superada. Alguns desses erros permanecem: "Há uma espécie de bolha em formação" agora mesmo, porque os juros muito baixos e as falhas de controle favorecem a especulação com certos ativos.

Soros defende, porém, a manutenção de incentivos fiscais anticrise, pois a recuperação, segundo ele, não se firmou. Alguns países têm condições de suportar déficits fiscais maiores e precisam fazê-lo. Se os estímulos forem cortados prematuramente, advertiu, poderá ocorrer uma recaída na crise. Soros elogiou o presidente Barack Obama por sua intenção de limitar o tamanho dos bancos, mas o plano proposto, ressalvou, não eliminará o problema das instituições "grandes demais para quebrar".

Os maiores grupos serão levados a separar os bancos comerciais (captadores de depósitos a vista) e os bancos de investimento, mas alguns bancos de investimento ainda serão muito grandes. Esse tipo de plano só ganhará credibilidade, afirmou, quando o governo confirmar na prática a disposição de deixar quebrar instituições de peso. Por enquanto, o problema permanece.

A tarefa atual, segundo Soros, não é meramente reconstruir o sistema afetado pela crise, mas construir um novo, "porque o velho sistema quebrou". Mas a reforma só funcionará se tiver alcance internacional. A globalização, disse o investidor, avançou com base na premissa da desregulamentação "contagiosa" dos mercados . Se o governo elimina regras nos EUA, exemplificou, outros fazem o mesmo para atrair capitais.

A ação do G-20, assumindo a liderança na pauta de reformas, é um passo na direção de um sistema internacional de controles, diz Soros. Mas é preciso, acrescentou, de outras medidas para restabelecer o equilíbrio internacional. O governo chinês tem acumulado "superávits fabulosos" em suas contas externas e deveria deixar a moeda nacional valorizar-se. A China tem um problema de inflação, acrescentou, e isso é uma razão a mais para admitir a valorização do renminbi.