Título: Troca de ministros sem traumas é plano do governo para ajudar Dilma
Autor: Goy, Leonardo ; Nossa, Leonencio
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/12/2009, Nacional, p. A4

Para evitar desaceleração de programas e problemas na campanha presidencial, 2º escalão vai comandar pastas

Com o diagnóstico de que a melhor campanha para embalar a candidatura da ministra Dilma Rousseff ao Planalto é o bom desempenho do governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fará mudanças sem traumas na Esplanada. A ideia é evitar possível desaceleração de programas governamentais provocadas por ministros "caídos de paraquedas". Assim, o último ano de mandato será marcado pela ascensão do segundo escalão.

O chefe de gabinete do Planalto, Gilberto Carvalho, confirma que os secretários executivos da Justiça, Luiz Paulo Barreto, da Casa Civil, Erenice Guerra, dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, e de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, assumem o comando das pastas na reta final do governo, com a saída dos titulares que vão disputar as eleições.

Em entrevista ao Estado, Carvalho relata que Lula disse à equipe que há regras para a substituição. "O presidente não quer de forma alguma que os substituídos usem o ministério para campanha", avisou o assessor. "Ele deixou claro: "o novo responsável pelo ministério terá de prestar contas a mim e não para os antigos ministros". É esta a linha do presidente."

Sobre o futuro político do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que anteontem conversou com Lula, Carvalho diz torcer por uma candidatura ao governo de Goiás. "Henrique Meirelles é um excelente candidato a governador, esta é a minha opinião", afirma. Carvalho disse que a escolha do candidato da base passa pelo atual prefeito de Goiânia e aliado do Planalto, Iris Rezende, que apoia uma frente única para enfrentar o PSDB, de Marconi Perillo. No cálculo de Carvalho, Meirelles não é um candidato a vice na chapa presidencial encabeçada pela ministra Dilma.

Carvalho relata que a tendência do ministro da Justiça, Tarso Genro, é sair ainda em janeiro ou fevereiro para disputar o governo do Rio Grande do Sul. A princípio, cogitou-se o nome de parlamentares para a pasta. "A tendência mesmo é que o secretário executivo Luiz Paulo Barreto, que faz um bom trabalho, assuma o ministério", disse Carvalho, descartando nomes de petistas para o posto. "E, na Casa Civil, a nossa Erenice Guerra deve assumir em março, quando a ministra Dilma sai para concorrer à Presidência."

A decisão de Lula de empossar secretários executivos nos cargos de ministros pode ter exceções. O substituto, no entanto, tem de ser da casa, com amplo conhecimento da rotina da pasta.

Assessores do Ministério das Comunicações, por exemplo, observam que o secretário de Telecomunicações, Roberto Pinto Martins, responsável pela implantação da TV digital, tem mais influência na pasta que o secretário executivo Fernando Lopes. Martins é o preferido de Hélio Costa. Todos os atuais ministros já foram avisados que assim que deixarem o governo não serão mais os "chefes" das pastas, independentemente de quem substituí-los.

FRENÉTICO

Na manhã da última terça-feira, além de Carvalho, os assessores mais diretos de Lula, Cesar Alvarez e Clara Ant, pegaram bandejas e serviram café da manhã para os garçons da Presidência, num clima de descontração de fim de ano. Ainda descontraído, o assessor disse na entrevista que o presidente exige que a equipe de governo atue de forma intensa no próximo ano. "Ele quer o governo trabalhando em ritmo frenético, não quer saber de abaixar o tom de jeito nenhum", disse. "Para o presidente, 2010 tem de ser melhor do que 2009."

Não há uma estratégia fechada de atuação da ministra Dilma, candidata à sucessão, nos primeiros dois meses do ano novo. Nas conversas reservadas com sua equipe, Lula observa apenas que a melhor campanha é o governo trabalhar bem. O presidente orientou sua equipe a redobrar a atenção para evitar que, durante o processo eleitoral, o governo seja acusado de fazer campanha para a candidata. "Uma coisa é a Dilma ministra, que percorre o País vistoriando obras, outra é ela candidata, temos consciência disto", disse Carvalho.

De acordo com o assessor, o presidente não prevê novas medidas de impacto nas áreas social e econômica no primeiro semestre. "O que tinha de ser feito nesse sentido já foi feito", afirmou Carvalho. "As benfeitorias e as bondades foram praticadas", completou. "O presidente pretende acabar o governo em alta velocidade."