Título: FAB resgata 33 pessoas em Albina
Autor: Recondo, Felipe
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/12/2009, Nacional, p. A6

Apesar do conflito no Suriname, maioria dos brasileiros trazidos no voo de ontem planeja retornar ao país vizinho

Um avião da Força Aérea Brasileira (FAB), que pousou ontem em Paramaribo, resgatou 33 brasileiros que estavam em Albina, cidade situada a 150 quilômetros da capital do Suriname, no último dia 24, quando um grupo de maroons, os quilombolas que vivem na região, atacaram garimpeiros e brasileiros que trabalhavam na cidade.

Muitos dos que partiram ontem avisaram que voltarão ao Suriname assim que a situação se normalizar no País. Os garimpeiros e outros brasileiros que viviam indiretamente do dinheiro do garimpo em Albina afirmam que é melhor retomar a vida no Suriname do que buscar trabalho no Brasil. Eles dizem, por exemplo, que conseguem, num mês, tirar US$ 1.200 no garimpo - sem precisar pagar impostos . No Brasil, com o baixo nível de escolaridade e a falta de oportunidades, conseguem de R$ 400 a R$ 500.

Reginaldo Rodrigues confirmou que está viajando para tirar novos documentos no Brasil. Na fuga de Albina, ele deixou todos os seus papeis para trás. "Vou tirar esses documentos e vou voltar. O salário no Brasil é muito baixo", justificou. "Aqui nós temos uma casa alugada e mobiliada. Nós vivemos bem", disse Rodrigues, casado com uma mulher que também trabalha no garimpo.

Mesmo quem retorna ao Brasil com a ideia de não voltar ao Suriname admite a possibilidade de mudar os planos no futuro, o que dependerá das dificuldades encontradas em solo brasileiro. "Sempre a gente diz que não vai voltar, mas quando a situação aperta, estamos aqui de novo", afirmou Valdecir Santos de Sousa. "Todo ano é a mesma coisa. Alguns vão para o Brasil dizendo que não voltam e no outro ano está todo mundo aqui de novo", criticou Carlos Gonçalves, há oito anos trabalhando com o garimpo no Suriname.

Funcionários da Embaixada do Brasil reconhecem que o retorno dos brasileiros ao Suriname é inevitável. Inicialmente, a embaixada estimava que 20 pessoas embarcariam no voo da FAB, mas diplomatas fizeram peregrinação pelos hotéis, onde estão hospedadas as vítimas do ataque em Albina, para convencê-las a voltar para o Brasil.

O voo de ontem foi o segundo a levar para Belém as vítimas do ataque em Albina. Na segunda-feira, a FAB já havia transportado cinco garimpeiros. Ontem, o embaixador José Luiz Machado e Costa descartou a possibilidade de haver outro avião da FAB para trazer os brasileiros de volta.

Com esse novo voo, 38 vítimas do ataque a garimpeiros já voltaram ao Brasil. A maioria das vítimas, porém, permanece em Paramaribo. No total, mais de 100 vítimas foram atendidas com o auxílio da Embaixada.

GUIANA FRANCESA

De acordo com os que permanecem em Paramaribo, existem ainda brasileiros escondidos em Albina e muitos desaparecidos. Pelo relato de algumas vítimas, há garimpeiros que estão na Guiana Francesa recebendo atendimento médico. A Embaixada do Brasil no Suriname confirma que pelo menos quatro pessoas foram transferidas daquele país para o território surinamês nos últimos dias.

Uma dessas vítimas é Joene Arruda dos Santos, de 22 anos. Grávida de sete meses, ela contou que se jogou no rio Maroni - que separa a Guiana Francesa do Suriname - para fugir do ataque dos quilombolas. Salva por índios que moram na Guiana, foi atendida num hospital francês. Com ela, foi salva e levada para a Guiana Deniclea Furtado. Ela conta que, enquanto esteve no hospital, ouviu relato da identificação de corpos de brasileiros vítimas dos ataques. Mas o governo da Guiana, as autoridades do Suriname e a Embaixada do Brasil não confirmam a existência de mortos por causa do conflito.