Título: Braskem e Petrobrás mais perto de acordo para incorporar a Quattor
Autor: Magnabosco, André ; Tereza, Irany
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/12/2009, Economia, p. B9
Negócio, que deve ser anunciado em janeiro, envolve um aporte de recursos que pode chegar a R$ 4 bilhões
A Braskem, do grupo Odebrecht, e a Petrobrás já chegaram a um acordo sobre a formação da gigante petroquímica que irá incorporar os ativos da Quattor (associação entre Unipar e Petrobrás). A operação envolverá um vultoso aporte financeiro, que deve ficar entre R$ 3 bilhões e R$ 4 bilhões. Chamada provisoriamente de Nova Braskem, a empresa será controlada pela Odebrecht, mas terá participação expressiva da Petrobrás, que deve deter em torno de 49% do capital votante. Petrobrás e Braskem participarão do aporte financeiro; a Quattor será absorvida e não participará da gestão da nova empresa. A holding Unipar, da família Geyer, terá participação diluída na nova companhia.
O anúncio da conclusão do negócio é esperado para o início de janeiro. A base do acordo está firmada, segundo fontes que acompanham as negociações, mas estão sendo discutidos alguns detalhes, principalmente os ligados à governança corporativa. Hoje, a Braskem é controlada pela Odebrecht (46%) e Norquisa (também do grupo Odebrecht, com 15,6%), em parceria com a Petrobrás. A estatal, com 25,3% das ações ordinárias (ON, com direito a voto) tem três assentos no conselho de administração, formado por 11 membros. Um controle dividido de maneira mais equilibrada exigiria, também, um conselho mais equânime para a tomada de decisões estratégicas.
A composição da companhia está sendo desenhada de forma a retirar a marca estatizante do negócio. Mas, o fato é que a estatal Petrobrás está decidida a criar uma empresa com porte suficientemente grande para competir internacionalmente.
Paralelamente à transação, a Braskem negocia a compra de duas empresas nos Estados Unidos. Uma delas, em fase mais avançada nas conversas, está na dependência apenas da aceitação do preço exigido. Em sua investida internacional, a Braskem também está compondo um consórcio que produzirá petroquímicos no México, dá continuidade a dois projetos na Venezuela e analisa investimentos na Bolívia e no Peru.
DIVERGÊNCIAS
As negociações para a formalização do acordo entre Braskem e Petrobrás poderiam ter sido concluídas nas duas últimas semanas, mas houve discordância em torno de critérios como o direito de veto a algumas questões e direito à indicação de membros do conselho e diretoria executiva. Às vésperas do Natal, com o acordo iminente, o empresário Alberto Soares de Sampaio Geyer, sócio da Vila Velha Administração e Participações (controladora da Unipar) - que tenta, isoladamente, interromper o processo -, obteve liminar em processo no qual pede a paralisação das negociações entre os controladores das duas empresas. Posteriormente, a liminar foi suspensa.
As divergências entre os membros da família Geyer são antigas mas não foram o fator preponderante para as dificuldades encontradas pela Quattor para permanecer no mercado. A empresa nasceu como a segunda do ranking, mas bastante atrás da líder Braskem. A crise global, deflagrada meses depois de sua criação, pegou a companhia no contrapé, profundamente prejudicada pela queda na demanda internacional por matérias-primas petroquímicas e com receita em dólar igualmente afetada pela valorização do real. A Braskem, ao contrário, já era uma companhia consolidada, estruturada e em pleno processo de internacionalização.
O aporte de recursos que resultará da operação na qual a Braskem irá incorporar a Quattor será mais vultoso do que o envolvido nos últimos grandes negócios no setor: a compra da Ipiranga por Braskem, Petrobrás e Ultra e a compra dos ativos petroquímicos do grupo Suzano pela Petrobrás e sua posterior associação com a Unipar, para a formação da Quattor. Criada em 2008, a empresa, que é 60% da Unipar e 40% da Petrobrás, reuniu ativos da Unipar e da Suzano em São Paulo e no Rio. Não tem capital aberto e sua dívida é hoje uma incógnita no mercado.
Segundo o último balanço divulgado pela Braskem, em setembro, a dívida bruta da empresa era de US$ 5,536 bilhões, US$ 113 milhões superior a 30 de junho. A dívida líquida consolidada, porém, se manteve inalterada em relação ao trimestre anterior, em US$ 3,764 bilhões. Em reais, houve uma redução de 9%, que refletiu a desvalorização do dólar no período.
NÚMEROS
51% deve
ser a participação da Braskem
na nova empresa, enquanto a Petrobrás ficaria com 49%
25,3% tem
hoje a Petrobrás na Braskem, enquanto a Odebrecht tem 61,6%
60% do capital
da Quattor é da Unipar, enquanto a Petrobrás tem 40%