Título: No Brasil, 4 grandes marcas ainda dominam o mercado
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Fonte: O Estado de São Paulo, 24/12/2009, Negocios, p. B11
Grupo formado por Fiat, Ford, GM e Volks têm 77,4% das vendas do País
Quando as novas montadoras começaram a chegar ao Brasil, no fim dos anos 90, a expectativa era de uma pulverização do mercado. A leva de novas marcas, entretanto, não minou o poderio das fabricantes mais antigas, embora tenha retirado delas pedaço equivalente a 22% do mercado. O grupo formado por Fiat, Ford, General Motors e Volkswagen ainda detém a maior fatia das vendas de quase 3 milhões de automóveis e comerciais leves previstos para este ano e é o que mais investe no País.
Durante várias décadas, as quatro grandes montadoras dominaram o mercado brasileiro. Hoje, com mais oito fabricantes e diversos importadores, elas ainda respondem por 77,4% das vendas totais. O grupo de empresas japonesas formado por Honda, Mitsubishi, Nissan e Toyota tem 9,2% do mercado e as francesas Citroën, Peugeot e Renault têm 8,9%.
As mais novatas na disputa, as coreanas Hyundai e Kia - que operam basicamente com produtos importados -, respondem por 3,1% das vendas, enquanto outras importadoras detêm 1,4%.
Em 2000, a participação das quatro grandes era de 84,6%. As francesas detinham 6,1% das vendas, as japonesas 4,1% e as coreanas 1%. O restante era dividido por importadores de origens variadas, principalmente europeias.
Com o desembarque das novas fabricantes num momento em que o País projetava fabricar 3 milhões de veículos em 2000 - número só atingido no ano passado -, as marcas veteranas contra-atacaram com fábricas mais modernas, renovação de produtos e uma rede de distribuição mais ampla e experiente.
Ainda hoje, as quatro grandes são as que mais investem no País. Juntas, vão investir R$ 14 bilhões nos próximos cinco anos em capacidade produtiva, modernização de parques e novos produtos. Entre as mais novas, a única a anunciar novo plano até agora foi a Renault, no valor de R$ 1 bilhão.
Segundo analistas do mercado, as novatas perderam o fôlego no meio do caminho, em parte porque o mercado inicialmente não cresceu no ritmo que esperavam, assustando as matrizes, e em parte porque apostaram em produtos sem grande escala de vendas.
Em 2000, dois anos após sua instalação no Paraná, a Renault detinha 3,8% das vendas praticamente com dois veículos nacionais, a minivan Scénic e o compacto Clio. Hoje, com mais três produtos de fabricação local (Logan, Sandero e Mégane), tem 3,9%.
O presidente da Renault do Brasil, Jean-Michel Jalinier, diz que a empresa encerrou a fase de construção da marca no País. "Agora vamos entrar em uma etapa de crescimento." Ele projeta que, em 2010, a marca terá participação de 5% das vendas locais.
A Toyota inaugurou a fábrica de Indaiatuba (SP) em 1998 para a produção do sedã Corolla alardeando planos, até agora não cumpridos, de produzir um carro compacto no País. A montadora que é líder mundial em vendas participa com apenas 3% das vendas no Brasil e, passados 11 anos, segue produzindo um único automóvel, a versão renovada do Corolla.
O grupo japonês anunciou no ano passado a construção de uma fábrica em Sorocaba (SP) com capacidade para 150 mil veículos ao ano e início de produção em 2011. Até agora, não informou oficialmente o valor do investimento nem o veículo que fará. Agências internacionais citam um modelo compacto de baixo custo. Nas raras vezes que falaram sobre o assunto, executivos da Toyota confirmaram tratar-se de um compacto, mas não popular.
CHINESES
Para o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Jackson Schneider, "é bom ter todas as marcas atuando no mercado, que fica mais competitivo". Segundo ele, a variedade de opções ao consumidor leva a um confronto de ofertas e de preços entre as marcas, o que é saudável.
O confronto deve se acirrar com a chegada de mais veículos chineses, uma ameaça antiga que começa a se tornar realidade. As marcas Chana, Effa e Chery já estão no País, mas com baixo volume de vendas.
Neste mês, o grupo SHC, do empresário Sérgio Habib, ex-presidente da Citroën do Brasil e dono de diversas concessionárias, anunciou a importação, a partir do segundo semestre de 2010, de quatro modelos da chinesa JAC Motors. O grupo terá inicialmente 50 concessionárias nas 30 maiores cidades brasileiras. "Os modelos da JAC terão preços competitivos com os carros nacionais, mas não serão super baratos", avisa Habib. Ele acredita que, num período de cinco a seis anos, as marcas chinesas terão 5% do mercado brasileiro.
Além dos importados, o grupo Caoa, do empresário brasileiro Carlos Alberto de Oliveira Andrade, negocia com a BYD, outro fabricante chinês, a produção local de carros da marca.
Andrade já produz em Goiás o minicaminhão HR e inicia no próximo ano a montagem do utilitário-esportivo Tucson sob licença da coreana Hyundai, que também terá uma fábrica própria no País em 2011 para produzir carros compactos. Na opinião de Habib, as marcas coreanas devem ampliar sua participação nas vendas totais de 3% para 5% até 2014.