Título: Empresário oferece R$ 240 milhões para assumir o controle da Quattor
Autor: Magnabosco, André ; Navarro, Teresa
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/12/2009, Negocios, p. B12

Oferta, feita por Alberto Geyer aos demais sócios da empresa, atrapalha os planos de fusão com a Braskem

A novela da incorporação da petroquímica Quattor pela rival Braskem ganhou um novo capítulo com a liminar obtida pelo empresário Alberto Soares de Sampaio Geyer paralisando a negociação entre as duas empresas. Com o processo de fusão parado, o empresário ganha tempo para tentar comprar a participação do restante da família e ficar sozinho no comando da Quattor. Ao mesmo tempo que entrou com a ação, ontem, Alberto apresentou uma proposta de compra de ações pertencentes às três irmãs da família Geyer, sócias na Vila Velha Administração e Participações, holding controladora da Quattor. "Minha intenção é obter 100% do controle da Quattor", diz o empresário, acrescentando que a proposta é irrecusável.

Seu advogado, Ivan Nunes Ferreira, do escritório Nunes Ferreira, Vianna Araújo, Cramer, Duarte Advogados, disse à Agência Estado que a proposta apresentada soma R$ 240 milhões, sendo R$ 80 milhões para cada uma das três irmãs - Cecília (representada por Frank), Vera e Maria Geyer. Alberto afirmou que o pagamento seria à vista e em dinheiro, embora não revele detalhes da estruturação financeira. Perguntado se terá algum sócio na empreitada, o executivo se negou a comentar.

A oferta, diz Alberto, deve ser analisada pelos demais sócios da holding até o próximo dia 4. Fazem parte do controle da Vila Velha, além de Alberto, Cecília, Vera e Maria Geyer - Joanita Soares de Sampaio Geyer deixou a holding após o acordo que resultou também no fim do processo que pedia a interrupção das negociações.

Na ação contra a fusão com a Braskem, Alberto pede, além da paralisação do processo, que a venda das ações de Joanita seja invalidada. Na semana passada, após acordo com os demais sócios da Vila Velha - com exceção de Alberto -, Joanita optou por desistir de processo semelhante ao movido agora por Alberto, decisão que garantiu a retomada das negociações, que estavam suspensas por outra liminar concedida naquele processo. O juiz de plantão que na terça-feira acatou parcialmente o pedido de Alberto não se manifestou sobre a venda das ações.

Caso a operação seja concluída e o controle da holding fique nas mãos de Alberto, o acordo entre Braskem e Quattor seria suspenso, já que o empresário foi, juntamente com Joanita, um dos votos contrários à criação da Quattor e ao processo de consolidação do setor. "O negócio é lesivo ao meu patrimônio", justificou o empresário, que detém 24% de participação na Vila Velha e se mostra contrário à união entre Quattor e Braskem.

Mas é exatamente essa dissensão dentro da família Geyer que torna pouco provável no momento um acordo entre Alberto e os demais membros da família Geyer. Procuradas pela Agência Estado, as empresas Unipar (detentora de 60% de participação na Quattor) e Braskem não quiseram comentar o assunto.

ESCALA GLOBAL

A incorporação da Quattor pela Braskem criaria uma das maiores companhias petroquímicas do mundo. A Petrobrás, que já é sócia das duas, seria minoritária na nova empresa. A operação conta com apoio de Brasília e faz parte de uma estratégia anunciada ainda em 2003, logo no começo do governo Luiz Inácio Lula da Silva, de consolidar o setor de modo a criar um parque petroquímico com escala global.

Em 2004,a Petrobrás retornou à petroquímica, setor do qual havia se afastado na gestão de Fernando Henrique Cardoso. Na época, a estatal divulgou que retomaria investimentos em expansão da capacidade ao mesmo tempo em que atuaria como consolidadora das empresas do setor, processo que culminou com criação da Quattor e com a compra da Ipiranga por Petrobrás, Braskem e Ultra.

Diante do início das negociações sobre a fusão da Quattor com a Braskem, a avaliação no setor é que o retorno da Petrobrás à petroquímica não obteve o resultado esperado. Observadores próximos dizem que a ideia de criar dois grandes grupos fracassou diante do elevado endividamento da Quattor. Além da incorporação da empresa da família Geyer, a Braskem negocia a compra de duas petroquímicas nos Estados Unidos.