Título: Cabello, o cão de guarda do presidente
Autor: Lameirinhas, Roberto
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/01/2010, Internacional, p. A14
No centro da polêmica sobre o fechamento da Rádio Caracas Televisão (RCTV) está Diosdado Cabello, diretor da Comissão Nacional de Telecomunicações (Conatel), ministro de Obras Públicas e Habitação e um dos assessores que a oposição qualifica de "cães de guarda" do presidente venezuelano, Hugo Chávez. Cabello foi o autor da ordem emitida no sábado às operadoras de TV a cabo para tirar do ar emissoras que não cumprem as normas do governo.
Ontem, ele manteve o discurso de que o governo não ordenou a saída do ar de nenhuma emissora. Teria apenas informado as operadoras sobre os riscos de seguir distribuindo o sinal de canais "que não cumprem a lei".
Tenente do batalhão de engenharia do Exército, Cabello participou, sob a liderança de Chávez, da fracassada tentativa de golpe contra o então presidente Carlos Andrés Pérez, em 4 de fevereiro de 1992. Com a derrota do movimento, passou a reverva.
Segundo analistas ouvidos pelo "Estado", o atual chefe da Conatel não pertence ao grupo dos "ideológicos" do chavismo, como o ministro do Petróleo Ali Rodríguez Arak ou o ex-vice-presidente José Vicente Rangel. No entanto, ele está entre os homens-fortes do regime pela lealdade a Chávez.
O presidente colocou Cabello em altos postos do governo, incluindo o de vice-presidente, que ocupava em 2002, quando uma desastrosa tentativa de golpe, em 11 de abril, tirou Chávez do cargo por menos de 48 horas e causou danos à imagem dos líderes da oposição.
Curiosamente, Cabello foi o único homem, além de Chávez, a ocupar constitucionalmente a presidência nos últimos 11 anos. Foi presidente por cinco horas. Quando setores chavistas das Forças Armadas lançaram o contragolpe e expulsaram do Palácio de Miraflores o empresário Pedro Carmona, Cabello assumiu e emitiu uma única ordem presidencial: para que uma unidade de elite da Marinha resgatasse Chávez, que estava na prisão militar da Ilha de La Orchila.
Cabello elegeu-se depois, em 2004, governador do Estado de Miranda. Sua administração, segundo analistas e políticos venezuelanos, foi um desastre. Seu irmão, José David, é acusado de fraudes bancárias durante o mandato.