Título: Hipótese de Aécio ser o vice tucano preocupa Planalto
Autor: Oliveira, Clarissa
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/12/2009, Nacional, p. A8

Para comando da campanha de Dilma, chapa pode ganhar musculatura com união de São Paulo e Minas

O comando da campanha presidencial da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, tem uma preocupação à vista: faz figa para que o governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), não ocupe a vaga de vice na chapa de seu colega José Serra na corrida de 2010. Na avaliação reservada dos petistas, uma composição unindo São Paulo e Minas, os dois maiores colégios eleitorais do País, seria perigosa.

Em público, porém, todos negam esse receio. "Nós não tememos nem chapa puro-sangue nem sanduíche", disse o líder do PT no Senado, Aloizio Mercadante (SP). "Temos um governo a apresentar. É só comparar as administrações do PT e do PSDB." O discurso do petismo para consumo externo é de que os tucanos estão "perdidos" e em situação "muito difícil". Embora o diagnóstico também seja feito em privado, o quartel-general da campanha de Dilma avalia que a imagem da ministra, desconhecida do grande público, ainda precisa ser muito "burilada" pelo marketing.

Na prática, o governo sempre preferiu enfrentar Serra a Aécio. Não sem motivo: pesquisas em poder do Planalto indicam que o mineiro é considerado mais simpático, mais político e mais conciliador. Serra é chamado pelo governo de "cavalo paraguaio": bom de largada, mas ruim de chegada. Os petistas fazem a mesma avaliação do ministro das Comunicações, Hélio Costa (PMDB), que pretende concorrer à sucessão de Aécio, em Minas.

Para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Aécio foi "esperto" ao afirmar, tempos atrás, que queria ser "pós-Lula", e não confrontá-lo no palanque. "Você um dia ainda vai ser presidente!", disse ao mineiro o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu, que trabalha nos bastidores da campanha de Dilma.

O Planalto já esperava a desistência de Aécio desde a semana passada, quando tucanos comentavam o assunto sem cerimônia nos corredores do Congresso. "Era uma novidade esperada. Só não sabíamos a data", observou Mercadante. O que os dirigentes do PT ainda não descobriram é se o governador mineiro cederá ou não à pressão de parte do tucanato para fazer dobradinha com Serra.

Em Copenhague, onde Dilma e Lula participam da Conferência do Clima (COP-15), o gesto de Aécio também não provocou surpresa. A notícia chegou ao hotel D"Angleterre, onde está hospedada a comitiva presidencial, ao fim de uma reunião de Lula com a chanceler alemã, Angela Merkel.

"O presidente soube da notícia e me contou", afirmou Dilma ao deixar o hotel para um jantar, por volta das 20h30 (horário local), acompanhada do assessor da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, e do negociador da COP-15, embaixador Luiz Alberto Figueiredo.

Dilma não quis opinar sobre o novo cenário eleitoral, com a saída de Aécio. "Não vou fazer comentário porque não li a carta da renúncia", desconversou ela.

Disputas à parte, a ministra e o presidente sempre tiveram bom relacionamento tanto com Aécio como com Serra. Em mais de uma ocasião, Dilma definiu o governador de São Paulo como "um dos mais brilhantes economistas que este país já teve". Com a desistência de Aécio, o Planalto espera atrair o PP para a campanha da chefe da Casa Civil. Até hoje, o senador Francisco Dornelles (RJ), presidente nacional do PP, vinha resistindo a fechar aliança com o PT, sob o argumento de que era preciso esperar a decisão no ninho tucano. Dornelles é tio de Aécio, mas agora está "liberado", na visão dos petistas. A não ser que o governador de Minas seja vice de Serra.

FRASES

Aloízio Mercadante Líder do PT no Senado "Nós não tememos nem chapa puro-sangue nem sanduíche"

"Temos um governo a apresentar. É só compararar as administrações do PT e do PSDB"

"Era uma novidade esperada (a desistência de Aécio). Só não sabíamos a data"