Título: Ação dá novo fôlego à política de Calderón
Autor: Magnabosco, André
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/02/2010, Economia, p. B12

A bem-sucedida operação de marines mexicanos contra líderes do crime organizado ocorreu no momento em que o esforço antinarcotráfico do presidente Felipe Calderón atraía cada vez mais críticas de especialistas e - consequentemente - da opinião pública do México. Calderón fez do combate às drogas a prioridade de seu governo desde que assumiu a presidência, em dezembro de 2006. Para isso, destacou 45 mil agentes, não só da polícia, mas também das Forças Armadas.

O combate direto aos cartéis, porém, ampliou a violência no país e estima-se entre 12 mil e 15 mil a cifra de mortes desse confronto. Paralelamente, cresceu o número de denúncias de abusos de direitos humanos.

Num claro sinal de que a política oficial fazia água, Calderón teve de aceitar, em setembro, a renúncia do arquiteto do plano de combate aos cartéis, o procurador-geral Eduardo Medina Mora. Nas últimas semanas, registravam-se massacres tanto de civis quanto de agentes do governo quase diários - em relatos que incluíam requintes de crueldade com cadáveres decapitados, mutilados, incinerados, etc.

Jornais mexicanos estimavam ontem que a operação contra os líderes da quadrilha daria novo fôlego à política de Calderón. Os analistas vão além: creem que a ação dos marines foi planejada na última hora, como parte de uma estratégia quase desesperada para convencer a opinião pública a voltar a apoiar a política oficial antidrogas. Em Copenhague, Calderón celebrou a operação. Especialistas no México, no entanto, não descartam a hipótese de a morte de Arturo Beltrán Leyva acirrar ainda mais a violência no país.