Título: Braskem compra a Sunoco e já mira novas aquisições
Autor: Magnabosco, André
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/02/2010, Economia, p. B12

Com o negócio, grupo brasileiro entra de vez no mercado americano, onde tem planos de crescer

Agência Estado

A Braskem oficializou ontem a compra dos ativos petroquímicos da americana Sunoco, marcando a entrada da companhia definitivamente no mercado dos Estados Unidos. "Temos a estratégia de que os EUA se tornem uma base importante para a empresa que queremos criar até 2020", disse o presidente da empresa brasileira, Bernardo Gradin. O acordo, de US$ 350 milhões, também inclui um contrato de fornecimento de eteno para as fábricas da companhia brasileira. A Sunoco conta com três fábricas de polipropileno, com capacidade de produção de 950 mil toneladas por ano. Há menos de duas semanas, a Braskem já havia comprado a brasileira Quattor, passando a ter uma capacidade de produção de 5,5 milhões de toneladas de resinas.

O interesse em ativos nos EUA foi revelado no segundo trimestre do ano passado e está concentrado em fábricas de polietileno e polipropileno, integradas ou não a centrais petroquímicas. E, segundo o executivo, a Braskem não deve parar por aí - mantém conversações com quatro até seis empresas. A prioridade, segundo ele, será buscar ativos interessantes, que permitam à companhia ampliar a presença naquele mercado sem comprometer a rigidez financeira. "A prioridade é a qualidade (do ativo)", disse. A meta da Braskem é ser a quinta maior empresa petroquímica do mundo até 2020. Atualmente, é a oitava.

Segundo fontes, a companhia já teria, no passado, iniciado negociações para comprar ativos da Dow Chemical e da Nova Chemicals, empresa que foi adquirida em meados do ano passado pelo International Petroleum Investment Company (IPIC), fundo soberano dos Emirados Árabes. Uma outra empresa que estaria no foco é a britânica Ineos, que enfrenta dificuldades nos EUA.

Gradin destacou que a redução dos preços dos ativos nos EUA foi um grande estímulo à operação. Segundo estimativas da Braskem, a construção de três fábricas semelhantes às unidades da Sunoco demandariam investimento de US$ 800 milhões. Caso as unidades da Sunoco fossem novas, o investimento seria de US$ 1 bilhão a US$ 1,1 bilhão.

A Braskem não trabalha com prazos para concluir uma nova aquisição. Além dos EUA, a Braskem também está presente em países como México, Peru e Venezuela, mas nesses casos os projetos ainda estão em fase de análise ou implantação. A Sunoco é a quarta maior fabricante de polipropileno dos EUA e tem a indústria automotiva como principal cliente. A companhia compra propeno de refinarias, em modelo semelhante ao adotado pela Braskem na Petroquímica Paulínia (SP). Gradin não deu detalhes do contrato, mas informou que o nome Sunoco será alterado para Braskem.

PROCESSO

Em teleconferência com analistas e investidores, o vice-presidente de Finanças e de Relações com Investidores da Braskem, Carlos Fadigas, destacou que os novos passos no exterior estão atrelados ao processo de incorporação da Quattor e da Sunoco Chemicals, o que deve levar até quatro meses.

Para viabilizar novas aquisições no exterior, a Braskem deverá contar com o apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). "No passado consultamos o BNDES e ele deu aval para o nosso processo de internacionalização", afirmou. A participação do BNDES em uma futura aquisição dependerá do tamanho do negócio. A Braskem concluirá o processo de aquisição da Sunoco e da Quattor com aproximadamente R$ 8 bilhões em caixa, se considerado o aporte de R$ 4,5 bilhões na operação de aumento de capital da companhia. "Eventualmente, o negócio pode ser feito integralmente com o caixa da Braskem."

Para isso, a Braskem conta com a retomada da atividade econômica nos Estados Unidos. "Sou muito otimista com a pujança do mercado americano. O gigante voltará a ficar de pé", afirmou. Os Estados Unidos são o segundo maior mercado no segmento de polipropileno.

A operação de aumento de capital da Braskem, anunciada na ocasião da aquisição da Quattor, deverá movimentar cerca de R$ 4,5 bilhões. Essa é a estimativa que está sendo trabalhada pela direção da Braskem e leva em consideração a adesão de aproximadamente 50% dos minoritários da companhia, excluído o BNDES.

O banco, que detém 5% do controle da Braskem, já informou que não pretende ser diluído na operação e por isso aportará quase R$ 270 milhões. Com a adesão do BNDES e o aporte de R$ 3,5 bilhões anunciado por Petrobrás e Odebrecht, o aumento de capital já tem garantidos R$ 3,77 bilhões.