Título: Pré-sal tumultua relação entre Lula e Cabral
Autor: Samarco, Christiane
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/12/2009, Nacional, p. A10
Defesa de interesses estaduais no Congresso faz governistas perderem controle da votação
Apesar de o governador Sérgio Cabral (PMDB) continuar a chamar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de "meu líder" e apontá-lo como o maior aliado do Rio, a relação passa por período turbulento. O motivo é a longa e indefinida votação das regras de exploração do petróleo da camada pré-sal na Câmara. A decisão de Lula de enviar a matéria ao Congresso empurrou Cabral, candidato à reeleição, para o confronto com colegas governadores e com companheiros do PMDB. Mesmo com o desgaste político, Cabral sustenta que não tinha alternativa a não ser a defesa contundente do Estado.
Com a divisão entre os parlamentares movida por interesses estaduais e não partidários, os líderes governistas perderam o controle da votação. Agora, se mobilizam para evitar a aprovação, na próxima terça-feira, de uma emenda que enterra o texto aprovado na quarta-feira, que tinha a concordância de Cabral. Resultado: caso a emenda seja aprovada, o governador dependerá do veto do presidente.
Cabral teve de recorrer a Lula em vários momentos, desde antes da conclusão do texto enviado à Câmara. Mesmo nas declarações mais raivosas contra as propostas de divisão igualitária entre todos os Estados e municípios, produtores ou não, o governador preservou o presidente. Na sexta-feira, em público, ignorou o risco de aprovação da emenda e agradeceu a Lula e aos parlamentares a aprovação do texto de consenso.
No entanto, os aliados de Cabral na Câmara continuam com medo de uma derrota. Dizem que os festejados investimentos federais em obras no Estado, que somam R$ 4,5 bilhões, se perdem diante do risco de o Rio deixar de receber até R$ 10 bilhões anuais no futuro, se prevalecer a proposta dos deputados Ibsen Pinheiro (PMDB-RS) e Humberto Souto (PPS-MG), que querem a divisão dos royalties com base nos critérios dos fundos de participação dos Estados e dos Municípios.
Na quarta-feira, Cabral acompanhou pela TV a votação do texto negociado com o governo e conversou por telefone com parlamentares fluminenses que estavam no plenário. Concordou com a manobra de empurrar a votação da emenda de Ibsen. "Se a votação for nominal, estamos liquidados", ouviu de um aliado. O fim de semana será de negociação intensa para garantir a derrubada da emenda. O problema é que deputados de Estados não-produtores também estão mobilizados para aprovar um novo texto.
Na disputa eleitoral de 2010, é fundamental para Cabral o discurso de que evitou prejuízos para o Rio na divisão dos recursos. Como, por enquanto, pretende preservar a bandeira da harmonia com a União, Cabral transfere para Lula parte da responsabilidade sobre o resultado final das regras da divisão dos recursos.