Título: PT articula para minar apoio de Quércia ao tucano
Autor: Duailibi, Julia
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/12/2009, Nacional, p. A10

PMDB governista disputará comando da sigla em SP

Setores do PMDB colocam em prática hoje uma ofensiva para enfraquecer o domínio do ex-governador Orestes Quércia no Estado, embalados pelo discurso da candidatura própria em 2010. Atiçado pela ala governista da sigla e por líderes do PT, o grupo vai desafiar Quércia na disputa pelo comando partidário no maior colégio eleitoral do País. Com isso, espera minar o apoio prometido por ele à candidatura presidencial do governador José Serra (PSDB).

Na convenção do PMDB, que será aberta hoje na Assembleia Legislativa, cerca de 750 delegados vão definir a nova Executiva Estadual e o nome que presidirá a instância no ano eleitoral. Quércia vem se perpetuando no posto ano após ano e iria, inicialmente, encabeçar uma chapa única. No último final de semana, entretanto, o deputado Francisco Rossi (SP) registrou uma chapa alternativa e lançou sua pré-candidatura ao Palácio dos Bandeirantes.

A movimentação teve início meses atrás. Nos bastidores, a operação teve participação direta de líderes do PT, empenhados em enfraquecer o acordo de Quércia com Serra, para reabrir a negociação com o PMDB paulista. A avaliação de petistas é a de que um acordo em torno da candidatura da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, em 2010 aumentaria o cacife da aliança nacional PT-PMDB e prejudicaria Serra dentro de sua própria casa.

Além da competição do grupo de Rossi, Quércia terá de dividir espaço no evento de hoje com o governador do Paraná, Roberto Requião. Pré-candidato declarado ao Palácio do Planalto em 2010, Requião decidiu rodar as convenções estaduais do PMDB no fim de semana.

Defensor ferrenho do apoio ao tucano, Quércia se decidiu pelo alinhamento ao PSDB desde o ano passado. Em troca do endosso à reeleição do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), o peemedebista ganhou uma vaga para concorrer ao Senado no ano que vem, na aliança PSDB-DEM-PMDB.

REAÇÃO

Em resposta à ofensiva, Quércia decidiu fazer o jogo de seus adversários. Chegará à convenção afirmando que tem toda a disposição em apoiar a candidatura própria do PMDB ao Planalto. Dirá ainda que, se a empreitada ganhar fôlego, se dispõe a trabalhar também por um nome próprio em São Paulo. "Se houver uma alternativa de o PMDB ter candidato, estaremos com o PMDB", despista.

Ontem, Quércia reuniu a Executiva Estadual do PMDB e colocou esse mesmo discurso por escrito. Na prática, entretanto, o plano é apenas neutralizar o discurso de Rossi, que até deu a sua chapa o nome de "Candidatura Própria Já".

Mesmo assim, o ex-governador diz estar tranquilo e que se manterá no comando da sigla. "Vamos reeleger toda a nossa Executiva", afirma. Rossi mantém o discurso otimista: "Temos chances de conseguir os votos de metade dos delegados."

À frente da ala peemedebista favorável ao apoio a Dilma, o presidente da Câmara, Michel Temer (SP), teve o cuidado de não se aproximar demais da articulação. Ele até manteve seu nome na chapa de Quércia, incluído na época em que o plano ainda era lançar uma chapa única.

Na prática, Temer ajudou a engatilhar a operação. Reuniu-se com Rossi e incentivou o colega a se lançar candidato ao governo. Ainda assim, o presidente da Câmara nega a interferência. "O Rossi me comunicou que seria candidato, mas eu estou propondo que haja uma grande conciliação para haver uma chapa única na convenção. Vou trabalhar por isso até domingo."