Título: Piñera lidera corrida com promessa de mudança
Autor: Costas, Ruth
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/12/2009, Internacional, p. A18

Discurso de candidato direitista, porém, é vago, com plataforma parecida com a do atual governo Bachelet

Favorito nas eleições de hoje, o candidato direitista Sebastián Piñera quer ser a "cara da mudança" para o Chile, mas suas propostas não são muito diferentes das políticas de Michelle Bachelet, que o derrotou nas urnas em 2005. Há alguns anos há um consenso entre direita e esquerda chilena quanto a quais devem ser os fundamentos da economia do país - como a abertura econômica, a busca por acordos comerciais e a responsabilidade fiscal. Agora, Piñera promete manter até os programas sociais da Concertação.

Além das trocas dos nomes nos escritórios do palácio de governo, na prática, as "mudanças" que Piñera promete são vagas - melhorar a gestão pública, acabar com a corrupção, dar mais amparo à classe média. O que convenceu parte da população de que ele representa uma "renovação" foram aspectos muito mais subjetivos que objetivos de sua campanha. Para atrair votos, ele tem apostado muito na sua imagem de empresário bem-sucedido, que construiu uma fortuna com um tino agressivo para os negócios.

Muitos chilenos ressentem-se da redução no ritmo de crescimento do país nos últimos anos e Piñera - dono de um patrimônio de US$ 1,3 bilhão que inclui participações na companhia aérea LAN, no clube de futebol Colo-Colo e numa rede de TV - coloca-se como a solução para a relativa estagnação.

"Há duas vertentes da direita chilena hoje", diz o sociólogo e cientista político Manuel Antonio Garretón, da Universidade do Chile. "Uma é a direita mais autoritária, que continua a justificar até os abusos aos direitos humanos cometidos durante a era Pinochet. A outra, da qual Piñera faz parte, é formada por grandes empresários que preferem evitar o tema da ditadura por pragmatismo."

Piñera construiu sua fortuna durante o regime Pinochet, mas diz que votou "não" no plebiscito sobre a continuidade de seu governo, em 1988. Hoje, condena com veemência os casos de abusos aos direitos humanos, mas a União Democrática Independente (UDI), principal representante da direita radical, é um dos partidos de peso em sua coalizão. Também não é difícil encontrar em seus comícios quem defenda o legado do ditador.

"Na época de Pinochet não havia desemprego nem inflação", diz Tatiana Moreno, engenheira de 27 anos, que diz ter crescido ouvindo os pais elogiarem o ditador e na quinta-feira participou do ato de fechamento de campanha de Piñera, em Santiago. "Todo mundo fala dos ataques aos direitos humanos, mas ninguém menciona os guerrilheiros que estavam empenhados numa guerra contra o Estado."

Segundo Garretón, durante a campanha, Piñera tomou alguma distância da direita radical para conquistar o voto do centro. "A questão é saber se, caso ele vença as eleições, não sofrerá mais pressões desses setores - e se sucumbirá a eles."