Título: Autor resgata cultura e tradição dos Munduruku
Autor: Mayrink, José Maria
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/12/2009, Vida&, p. A27

Aos 45 anos de idade e 13 de escritor, Daniel Munduruku lança O Karaíba, uma história do pré-Brasil (Editora Manole, 98 págs., R$ 39), romance destinado ao público juvenil. É mais um livro para ler com o coração, conselho válido para todas as lendas buscadas nas profundezas dos séculos anteriores à chegada dos portugueses à Bahia.

"Essa é uma história de ficção", alerta Daniel, com a ressalva de que, se não ocorreu de verdade, é uma história que poderia ter acontecido. Karaíba foi um profeta que percorria as aldeias prevendo coisas assustadoras, como a chegada de um grande monstro que destruiria tudo. "Não sobrarão nem vestígios de nossa passagem sobre esta terra onde nossos pais viveram", anunciou o velho sábio a seus parentes que habitavam a Amazônia. "Tudo será revirado: as águas, a terra, os animais, as plantas, os lugares sagrados", era essa a visão de Karaíba que os índios confirmariam no futuro, quando um jovem se assustou com um ponto branco se aproximando da praia. "Fantasmas estão chegando!", gritou aos guerreiros da aldeia.

O que aconteceu daí em diante, a história contada pelos não índios, os manuais ensinam nas escolas. Nas páginas desse seu pequeno romance, Daniel resgata um pouco da cultura e da tradição dos Munduruku, que se espalham hoje com uma população de 12 mil índios pelos Estados de Mato Grosso, Amazonas e Pará.

ENTRE IGARAPÉS

Foi numa aldeia da região de Santarém (PA), entre os igarapés afluentes do Rio Tapajós, que Daniel viveu até os 15 anos. Quando o pai foi morar na cidade, continuou a visitar seu povo, como conta em outro livro, Meu Vô Apolinário (Studio Nobel), que ele define como "um mergulho no rio de (minha) memória". Casado com uma moça do Vale do Paraíba e pai de dois filhos, Daniel formou-se em Filosofia na Universidade Salesiana de Lorena e faz doutorado em Educação na USP, enquanto escreve e dá palestras pelo Brasil afora.