Título: Produtividade é 260% maior que há 20 anos
Autor: Silva, Cleide
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/12/2009, Economia, p. B8

Produção subiu de 914 mil carros para 2,93 milhões; empregos caíram de 138 mil para 124 mil

A competitividade de uma fábrica não se mede apenas pela quantidade de veículos que produz, mas a que custo e com que grau de qualidade, avalia Marco Salvany, da Lean Consultores, especializada em processos enxutos de produção. Também não depende da idade da fábrica, diz ele.

Salvany cita que a fábrica de tratores Agco, do Rio Grande do Sul, construída na década de 60, é hoje a mais produtiva do grupo entre dezenas de unidades em vários países, incluindo Alemanha e Estados Unidos. "A fábrica recebeu investimentos ao longo desses anos e adotou o sistema de produção enxuto", diz ele.

O método conhecido como lean (enxuto, em inglês) foi adotado inicialmente pela Toyota e depois se espalhou por outras fábricas no mundo todo, em substituição ao modelo de produção em massa, cuja precursora foi a Ford ao introduzir a produção em série inicialmente para a produção do modelo T nos Estados Unidos.

O consultor ressalta que a localização da fábrica é outro item que influencia na produtividade. Salários, custo de vida, logística de fornecedores e acesso ao local pesam na balança.

David Wong, diretor da consultoria Kaiser Associates, cita, por exemplo, que o custo de produção na fábrica da Fiat em Betim (MG), é em média 40% mais baixo do que o de uma fábrica no ABC paulista.

Mas a alta concentração mantida pela Fiat não é um modelo ideal, na visão de Salvany, para quem a fábrica mineira é grande demais. "Uma grande escala produtiva, a partir de um certo ponto, é uma ilusão." Em sua opinião, o consenso no meio automobilístico atualmente é de que o mais razoável são fábricas com capacidade máxima de 250 mil veículos ao ano.

CARRO POR TRABALHADOR

Outro item avaliado pelos consultores para medir a eficiência de uma fábrica é o número de carros produzidos anualmente por trabalhador. As empresas normalmente não divulgam esses dados, por considerá-los estratégicos.

Numa conta primária, apenas para dar dimensão do avanço ocorrido nos últimos anos, cada funcionário de montadora (incluindo operários e administrativos) produzia, em 1990, o equivalente a 6,6 veículos por ano. Naquele ano, as indústrias empregavam 138,3 mil funcionários e produziram 914,4 mil veículos.

Neste ano, as montadoras contam com 123,9 mil funcionários e produziram, até novembro, 2,93 milhões de carros, o que daria 23,6 unidades por trabalhador, 257% a mais do que a média de quase 20 anos atrás.

Como muitos dos trabalhos antes feitos pelas montadoras, como motor, caixa de câmbio e até bancos foram transferidos para os fornecedores, Wong acha que a conta deveria incluir os empregados das autopeças que trabalham na produção votada às montadoras.

O resultado é um número menor de carros por trabalhador, mas o aumento da produtividade ocorrida em duas décadas segue significativo. Somando funcionários das montadoras e das autopeças, cada um deles fazia 2,88 carros por ano em 1990. Hoje, fazem 10,4 carros, um aumento de 261%.

Em número de trabalhadores, o quadro dos dois segmentos encolheu 11,4%. Juntas, montadoras e autopeças empregavam 317,7 mil pessoas em 1990. Hoje, são 281,4 mil. C.S.