Título: Honduras aproxima Brasil e EUA
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/12/2009, Internacional, p. A10
Enviado americano e assessor de Lula defendem saída de Micheletti e reduzem divergências sobre crise hondurenha
Em um sinal de que abrandará ainda mais suas posições sobre crise política em Honduras, o governo brasileiro acertou ontem com o enviado do Departamento de Estado americano, Arturo Valenzuela, o início de um trabalho conjunto para restabelecer a democracia no país centro-americano. O diálogo partirá da convicção comum de EUA e Brasil de que a eleição presidencial em Honduras, que deu vitória a Porfírio "Pepe" Lobo, não restabeleceu a democracia no país, conforme resumiu o secretário-geral das Relações Exteriores, Antônio Patriota.
Nomeado subsecretário de Estado para o Hemisfério Ocidental há apenas seis semanas, Valenzuela, que é chileno de nascimento, tratou longamente sobre o tema, na manhã de ontem, com o assessor da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia. Apesar de algumas diferenças, o balanço das conversas de Valenzuela em Brasília indicou que, ao desgastado governo brasileiro, valerá a pena adequar suas posições ao pragmatismo de Washington.
Ao final do encontro, Garcia insistiu que os passos necessários para a solução da crise em Honduras são a saída do presidente do governo de facto, Roberto Micheletti, e a concessão de um salvo-conduto para que Manuel Zelaya, deposto em 28 de junho, possa deixar o país. Valenzuela insistiu na adoção do Acordo San José-Tegucigalpa, que prevê a formação de um governo de união. A rigor, os dois lados dizem a mesma coisa desde que o Brasil, há duas semanas, deixou de insistir na necessidade de restituir de Zelaya ao poder e passou a negociar a saída dele da missão brasileira e de Honduras.
O diálogo Brasil-EUA girará em torno do reconhecimento de "Pepe" Lobo como presidente legítimo de Honduras. Valenzuela insistiu ontem que Lobo será "o próximo presidente de Honduras" e sua eleição "não pode ser desqualificada". O Itamaraty indicou, na semana passada, que poderá reconhecer o futuro governo dependendo da posição que Lobo adotar - por exemplo, se condenar o golpe e o regime de facto. Portanto a convergência para a posição dos EUA não custará muito.
O próprio Garcia afirmou ontem, após seu encontro com Valenzuela, que a diferença entre as posições dos dois países é "muito pequena". O subsecretário, por sua vez, tocou em uma questão cara ao governo brasileiro ao destacar a veemente condenação dos EUA ao golpe em Honduras e a preocupação da Casa Branca com o precedente aberto no continente. "Qualquer que seja a solução para a crise terá de trazer a mensagem clara de que nada justifica um golpe de Estado", afirmou Valenzuela. Micheletti reiterou ontem que só autoriza a saída de Zelaya como asilado, desde que não vá nenhum país vizinho.
POSIÇÕES
Arturo Valenzuela Enviado americano "Lobo é o presidente legítimo de Honduras e sua eleição não pode ser desqualificada"
"Qualquer que seja a solução para a crise de Honduras terá de trazer a mensagem clara de que nada justifica um golpe de Estado"
Marco Aurélio Garcia Assessor da Presidência "Diferença entre a posição dos dois países é muito pequena"