Título: Alta de déficit é preocupante, afirma Coutinho
Autor: Nakagawa, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/12/2009, Economia, p. B3

Resultado negativo em conta corrente deve ir de 1,4% para 3,2% do PIB, prevê o JPMorgan

O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, afirmou que é "preocupante" a perspectiva de aumento do déficit de transações correntes do País para 2010. Com a previsão de avanço do PIB de 6% no ano que vem, junto com o crescimento fraco das exportações, várias analistas estimam que tal saldo negativo deve mais que dobrar nos próximos 12 meses.

De acordo com o JPMorgan, o déficit em conta corrente deve subir de US$ 23 bilhões em 2009 para US$ 56 bilhões em 2010, o que representa um aumento de 1,4% para 3,2% do PIB. "Tenho reiterado sempre que um déficit de conta corrente muito superior a 1,5% do PIB não é muito saudável", disse Coutinho. Para ele, é importante que o País adote algumas diretrizes para evitar que o saldo negativo das contas externas supere um patamar razoável.

Segundo Coutinho, o principal elemento que vai nessa direção é o avanço da poupança doméstica, em todas as suas frentes, sejam elas das famílias, das empresas e do governo.

Passados os efeitos da crise financeira mundial sobre a economia nacional, o Brasil deve estabelecer entre suas prioridades um avanço substancial dos investimentos a fim de ampliar a capacidade de crescimento sem gerar pressões inflacionárias. O comentário de Luciano Coutinho, sintetiza a intenção do governo de ampliar a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) no longo prazo. O estudo Projeto PIB: Perspectivas de Investimento no Brasil, feito por acadêmicos e apoiado pelo governo, tem como objetivo avaliar as possibilidades de ampliação dos investimentos no Brasil em infraestrutura, indústria e economia do conhecimento com foco específico até 2020.

"O setor industrial no Brasil venceu a necessidade de ser competitivo no curto prazo. Agora, precisamos estimular o avanço dos investimentos das empresas no horizonte de vários anos à frente", comentou o coordenador-geral do projeto, o professor da UFRJ David Kupfer. O estudo destaca dados já divulgados pelo BNDES, segundo os quais os investimentos no Brasil atingiram R$ 539,2 bilhões entre 2005 e 2008. De acordo com o banco oficial, os projetos firmes que vão de 2009 a 2012 apresentam um montante de R$ 730,7 bilhões.

De acordo com alguns dos responsáveis pelo trabalho, boa parte desses recursos está relacionada a obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O estudo aponta que há problemas na evolução da Formação Bruta de Capital Fixo nesta área. De acordo com o trabalho, três pontos devem ser ressaltados.

O primeiro é que a ampliação do patamar de investimento nos últimos anos, vinculada às obras do PAC, "se constitui numa retomada necessária, mas desordenada"" da expansão da infraestrutura no Brasil.

Num segundo ponto, o estudo destaca que a expansão de longo prazo da infraestrutura do Brasil necessita de planejamento integrado e sistêmico nos diferentes segmentos produtivos, pois, em muitos casos, não são exploradas .

O terceiro tópico relevante é a coordenação "deficiente" entre os processos de execução necessários para a viabilizar um projeto: "É indispensável modificar o fluxo de execução técnica dos projetos até a efetiva entrada em operação dos novos ativos." RICARDO LEOPOLDO