Título: Grupo quer ver Dilma entrar na polêmica dos direitos humanos
Autor: Nossa, Leonencio
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/01/2010, Nacional, p. A6

Para ala próxima de Lula, ela amenizaria radicalismo e colheria dividendos

Uma corrente do governo próxima ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva defende a ideia de que a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, se exponha mais no debate em torno do Programa Nacional de Direitos Humanos, com o propósito de amenizar os radicalismos e produzir avanços nesse campo em relação aos textos do governo anterior.

Esse grupo, que conta com assessores presidenciais e ministros do governo, acha que o texto produzido no Ministério da Justiça encampa em alguns pontos o ideário ultrapassado, mas o conjunto da obra poderá ser aproveitado por Dilma até com dividendos políticos. Eles avaliam que o programa, embora tenha "pecado pela abrangência" ao encampar assuntos distantes do debate sobre direitos humanos, trata de pendências históricas importantes, como a Comissão da Verdade.

Nesse contexto, o entendimento é que os participantes da resistência nos anos do regime militar já "pagaram um preço" por suas atividades no período, como a clandestinidade, a prisão e até tortura - caso da própria ministra.

"É normal que candidato seja cobrado por tudo", disse um auxiliar de Lula. "É preciso perguntar para a Dilma sobre o que ela acha do programa."

Na avaliação desses assessores, a crise dos direitos humanos é um bom começo para o debate eleitoral. "Todos eles, Dilma, Serra e Marina Silva, vão ser a favor da Comissão da Verdade, uma ideia que sairá mais fortalecida da crise", afirmou o auxiliar de Lula.

Personagens caracterizados por uma militância mais ostensiva - como o ministro Paulo Vannuchi, da Secretaria Nacional dos Direitos Humanos - protagonizam algum constrangimento no episódio porque Dilma não mostrou até hoje disposição para confronto com os militares em torno dos crimes da ditadura. Por isso, se aposta que terá habilidade suficiente para enfrentar o tema sem se indispor com as Forças Armadas e, ao mesmo tempo, mostrar sua história pessoal, parte dela passada nas prisões da ditadura.

A tese avança até um cenário em que os integrantes do governo que participaram da resistência armada prestem testemunho à Comissão da Verdade, sem revanchismo e apenas com uma preocupação de revelar a história para as novas gerações.

PASSEIO

Na manhã de ontem, Dilma passeou por uma hora com seu cão labrador, o Nego, pela Península dos Ministros, área do Lago Sul, em Brasília, onde fica a residência da Casa Civil. Com chapéu, bermuda e bem-humorada, ela cumprimentou pessoas que passavam pelo local.