Título: Comissões da verdade investigaram crimes
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/01/2010, Internacional, p. A11
Os horrores cometidos pela ditadura militar chilena foram investigados por pelo menos duas grandes comissões de verdade e justiça.
A primeira delas - conhecida como Comissão Rettig - foi instaurada em abril de 1990, num dos primeiros atos da redemocratização. Ela foi responsável por analisar 3.400 casos individuais de tortura, maus-tratos, execução sumária, desaparecimento forçado e ocultação de corpos cometidos ao longo dos 17 anos de ditadura.
Em sua primeira versão, entregue em 1991, a comissão responsabilizou o governo por 2.279 mortes. O então presidente Patricio Aylwin assumiu, em nome do Estado, a responsabilidade por todos os crimes relatados e pediu perdão ao país e particularmente às famílias das vítimas.
Apesar da acuidade dos números e dos testemunhos apresentados, a direita chilena sempre acusou o Relatório Rettig de ter ignorado a violência cometida antes de 1973 pelo presidente socialista Salvador Allende. Com esse argumento, tentou-se comparar Allende ao ditador Augusto Pinochet. O documento, entretanto, concentrou-se - tanto em sua primeira versão quanto na segunda, de 1999 - nos crimes cometidos durante o governo militar, que foi de 11 de março de 1973 a 11 de março de 1990.
Além da Comissão Rettig, o ex-presidente chileno Ricardo Lagos criou em 2003 a Comissão Valech para ampliar o alcance do informe anterior. Ainda hoje, a comissão trabalha na investigação de 4 mil casos de violações dos direitos humanos que vieram a público recentemente.