Título: Bachelet abre museu e causa polêmica
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/01/2010, Internacional, p. A11

Para rivais, memorial em honra a vítimas da ditadura favorece Frei

Na reta final da campanha eleitoral no Chile, a presidente Michelle Bachelet inaugurou o Museu da Memória e dos Direitos Humanos para lembrar os abusos cometidos durante a ditadura do general Augusto Pinochet (1973 -1990). "Não podemos mudar nosso passado, só nos resta aprender do que foi vivido. Essa é nossa oportunidade e nosso desafio", disse Bachelet, torturada junto com sua mãe no regime militar.

O museu, que tem projeto arquitetônico do escritório brasileiro Estúdio América, é um dos projetos mais emblemáticos do governo Bachelet. Com uma proposta parecida com a do Museu do Holocausto, em Washington, ele tem sido bastante criticado pela oposição direitista que vê na sua inauguração, tão próxima do segundo turno da votação presidencial, uma tentativa de influenciar o resultado das urnas.

"A inauguração do museu já estava prevista havia muito tempo", rebate, em entrevista ao Estado, Marcia Scantlebury, diretora do memorial. "A direita tem feito campanha dizendo que as pessoas não querem recordar o que aconteceu, mas o fato de os corredores do museu estarem cheios é uma prova do contrário."

A cerimônia de inauguração, na segunda-feira à noite, foi marcada pelo tumulto. Durante o discurso de Bachelet, a irmã de um jovem índio mapuche, morto pela polícia em 2008, invadiu o palco aos gritos para pedir justiça.

O escritor peruano Mario Vargas Llosa foi vaiado por familiares de vítimas da ditadura porque apoia o candidato direitista às eleições chilenas, Sebastián Piñera. "Que se vá! Que se vá!", gritaram os simpatizantes do candidato esquerdista Eduardo Frei. "Há muita gente importante, como esse escritor, que não conhece nossa história e não tem o direito de dar lições para a nossa gente", disse Ana Gonzales, de 84 anos, cujos filhos, o marido e a nora grávida desapareceram durante a ditadura.

Em exposição, há fotos dos desaparecidos e mortos pelo regime pinochetista, objetos pessoais de presos políticos, cartas e depoimentos dos sobreviventes. Segundo um relatório da chamada Comissão Rettig, de 1991, o regime militar chileno deixou 3.197 mortos. Em 2004, a Comissão de Prisão Política e Tortura concluiu que quase 30 mil pessoas foram torturadas.