Título: Juiz dos EUA retém conta do BC argentino
Autor: Giuliana, Damaris
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/01/2010, Internacional, p. A13

Embargo de depósito foi solicitado por dois fundos de investimento

Em meio à crise institucional que atinge a Argentina desde a semana passada, o governo da presidente Cristina Kirchner sofreu um duro golpe ontem com a decisão do juiz federal Thomas Griesa, de Nova York, de embargar US$ 1,7 milhão relativos a fundos que o Banco Central argentino possuía no Federal Reserve (banco central americano).

O embargo foi solicitado ao juiz pelos fundos de investimentos NML e EM. Esses fundos têm títulos da dívida que não entraram em 2005 na controvertida reestruturação dos bônus argentinos que estavam em estado de calote desde dezembro de 2001.

Embora o volume seja simbólico, já que os credores que não aceitaram a reestruturação da dívida possuem bônus com o valor nominal de US$ 30 bilhões, o embargo implica em maiores incertezas para a Argentina.

A notícia caiu como um balde de água fria no governo, que viu os títulos da dívida pública caírem até 12%. A taxa de risco do país aumentou 8% em relação à véspera e chegava ontem no início da noite a 734 pontos. A Bolsa de Buenos Aires caiu 2,03%.

CRÍTICAS

Visivelmente irritado, o ministro argentino de Economia, Amado Boudou, fez duras críticas ao vice-presidente da República, Julio Cobos, o presidente do Banco Central, Martín Redrado (que Cristina tentou demitir na semana passada por decreto), e setores da Justiça, aos quais culpou pela atual turbulência.

Segundo Boudou, Cobos - que rompeu com a presidente Cristina e tornou-se o principal presidenciável da oposição - lidera um "complô" contra o governo.

A presidente Cristina enfrentará um novo ponto de atrito caso as quatro associações ruralistas do país decidam por uma nova onda de manifestações contra a política econômica do governo. Os ruralistas, insatisfeitos com a intervenção no mercado de trigo e com a ausência de políticas para o setor, debateram ontem a retomada dos protestos.

A recusa do ministro da Agricultura Julián Domínguez de ir ao debate em um teatro de revista foi interpretada como uma nova rejeição do governo em abrir o diálogo com os agricultores.