Título: Emergentes discutem nova meta
Autor: Balazina, Afra
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/01/2010, Vida&, p. A16

Na 1.ª reunião após a COP, países devem definir suas propostas

Menos de um mês depois do fracasso em Copenhague, os países começam a retomar as negociações na área de mudança climática e já têm de apresentar algumas lições de casa. O primeiro encontro do qual o País vai participar é uma reunião do Basic (grupo que reúne Brasil, África do Sul, Índia e China) no dia 24, em Nova Délhi. E, até o dia 31, os quase 200 países que participam das conferências climáticas da ONU precisam informar se vão subscrever o chamado Acordo de Copenhague.

Também devem dizer, segundo os anexos do acordo, que compromissos e ações vão adotar na área climática - no caso brasileiro, o País pode informar sua meta de cortar as emissões entre 36% e 39% em relação ao projetado para 2020.

O documento de Copenhague, que não tem metas de corte de emissão de gases de efeito estufa para os países desenvolvidos, virou um adendo da Convenção do Clima da ONU e nada mais é do que uma carta de intenções dos governos que o assinarem.

Já o Basic se fortaleceu em Copenhague, principalmente depois de contar com a presença do presidente americano Barack Obama numa de suas reuniões. O ministro Carlos Minc (Meio Ambiente) deve participar do próximo encontro do grupo, juntamente com Suzana Khan, secretária nacional de Mudanças Climáticas.

"O grupo tem muitas similaridades e interesses comuns. O ideal seria que os países adotassem a mesma metodologia, uma maneira semelhante de apresentar cenários e números", afirma Suzana. Por isso, ela quer, além da reunião ministerial, aproveitar para fazer uma reunião técnica com os países do Basic em Nova Délhi. O objetivo é chegar ao total de quanto esses países emergentes conseguiriam cortar de gases de efeito estufa e quanto de recursos precisariam para atingir a meta.

Na avaliação do consultor do Ministério do Meio Ambiente Tasso Azevedo, apesar de o Basic fazer sentido, podem ocorrer muitas faíscas com a China. "Ficou claro que os chineses bloquearam tudo em Copenhague, inviabilizaram qualquer possibilidade de metas para os países desenvolvidos", diz.

FLORESTAS

O Brasil pode se beneficiar com o Acordo de Copenhague e receber recursos para preservar a floresta. Azevedo ressalta que o documento prevê que se inicie "imediatamente" um mecanismo para fazer o financiamento de Redd (Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal). Por isso, o País trabalha para não perder o prazo de 31 de janeiro.

A próxima Conferência do Clima da ONU, a COP 16, será realizada em novembro, em Cancún (México). Avalia-se que a região foi considerada mais adequada do que Cidade do México, por exemplo, pela estrutura hoteleira e por ter menos trânsito. Por ser uma área turística, também pode haver menos protestos, como os ocorridos em Copenhague.

Na opinião de Suzana, para o sucesso da COP será fundamental o papel do México na presidência da conferência, assim como o da Convenção do Clima da ONU (UNFCCC) na mediação. Segundo ela, o atual secretário executivo da convenção, Yvo de Boer, "tenta acomodar todo mundo, não briga com ninguém" e em alguns casos deveria ser mais agressivo.